domingo, 20 de agosto de 2017

Estava segura no meu castelo de gelo que ele derreteu quando chegou. Caí lentamente dez lances de escada, a cola dos meus ossos ainda estava molhada, tudo se partiu novamente. As lágrimas no meu travesseiro não são de dor, ma de medo. Espero que elas tragam alguma cura. 
Esse beijo não durou mais de cinco segundos, intermináveis, vagos e perdidos num passado inteiramente atual. Eu te escreveria juras de amor, meu querido, as palavras mais doces que li na vida, afim de acalentar minha boca com o gosto da sua. E outras linhas mais das quais percorri na memória, sua falta afaga meu desejo. Se penso que eu e você iremos nos eternizar nas minhas singelas palavras, ou que seu papel aqui fosse só esse de me fazer rir, cada um num oceano diferente. Beijo de Eros, me excita, mas não me tem, me acende, seu torpor não me parece real. Tem minha prova e toda minha mente devassa a esperar as suas mãos. Eu não fico. Eu já estou pra lá do horizonte. Me acaricie com a curiosidade do seu olhar, me beije com esse teu olhar e tire a minha roupa com esses lábios de menino. Num dia desses, quando eu estiver passando, no tempo que dura uma respiração profunda. Tenha o meu sabor. E somente isso.  
Não sei se é mesmo você ou algum distúrbio hormonal. Eu controlo o tempo, a ansiedade, até mesmo controlo algumas pessoas, sendo que não posso controlar o que você causa em mim. Isso é assustador. Isso não me parece bom. Se nossa validade já venceu, enrolada demais pela sua indecisão, então creio que eu já não deveria mais me importar com seu nome escrito em todos os cantos por onde eu passo. Mas, querido, ainda quero ter a sensação de ter você em mim, cobrindo meu corpo todo. Por mais que o ar não seja um dos mais leves. Você vai e eu aqui não me sinto bem. E eu deveria. Ficar bem. O tempo todo. Ou boa parte dele.  
Isso de eu e você ainda me soa totalmente certo. Naquele dia em que abri os olhos e lá estavam todas as partes que adoro em você, há centímetros dos meus dedos. Parece certo conversar com você, beber no seu corpo, dar minha boca pra você beijar, depois encontrar as melhores palavras pra te desenhar aqui. O que eu mudo dentro de mim acompanha a sua respiração. Somos tanto, em alguma esfera universal, que o passo a passo das pessoas normais não servem aqui. Se bem que seria bom te ver de novo um pouco mais de perto. 
Enjoei da minha voz dizendo coisas sobre você e fui capaz de prometer que esse assunto estaria encerrado. Me descobri livre do peso que é estar apaixonada, achando idiota a parte que nos faz estar sempre em busca de dividir a vida com alguém. Preciso ler alguns livros teóricos pra mudar esse narrador chato, que é só você fazer algo com seus olhos, uma grancinha sem graça, que ele pega a caneta e vem escrever. Pouco evoluída pra viver sozinha e jovem demais, ainda se abala com isso. Eu gosto de você ainda e isso faz doer minha humanidade. 
Se deite, olhos castanho-esverdeados, pousando em meus braços os planos pra não ficar. Por meio instante, olhe que as janelas estão sempre abertas caso você queira sair às pressas. Se deite sem aquele discurso pré montado de que você é o melhor no que faz e se atreva a não poupar sentir o que tiver de sentir. Vocês jamais irão entender que tudo se constroi e se destroi no agora. É por isso que não sentem, só atuam suspiros ensaiados. E quando deitar um pouco mais antes de ir embora, se sentir vazio dois segundos depois. Onde você estava mesmo, esse tempo todo em que estivemos por aqui? 

terça-feira, 18 de julho de 2017

Sunshine

Dessas coisas bobas, antigas, bregas que fazem a gente lembrar com calorzinho no peito. Mesa pra dois. E sempre fazemos o mesmo ritual de colocá-las lado a lado, quebrando a regra primordial dos sistemas de restaurantes. Em qualquer lugar do mundo, faremos deles o nosso lugar. 
Meu bem, essas coisas acontecem. Por exemplo, eu acabar escrevendo sobre você.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Estou intelectualmente apaixonada por você

Era noite, mas não tão tarde. Fechou o livro e despertou. Todas as abas, janelas, portas, vidraças e cicatrizes com o sangue a ser jorrado, sem estancar, a luz e o insight. E mais uma vez ela pronunciou essas palavras que lhe cabiam tão bem nas esperanças de dias ensolarados, "agora eu mudei de vida". No segundo seguinte, o chão se abriu e o reflexo no espelho já não lhe parecia seu. Malditos os livros, que abrem as cabeças e colocam essas ideias malucas. Ela amou um pouco menos aquele aquele cara que costumava trocar beijos ardentes às vezes quando se encontravam por acaso. E a melhor amiga. Juntou os pedaços de consciência: infelizmente, eles não cabem mais nas minhas ideias e por isso acabam de me perder um pouco. Tramas de admiração, 80 fios, alguns são de ouro. A gente já não pode conviver mais com quem continua achando que poliamor dá inferno. E tem também aquele mito de encontrar alguém na vida que já tenha lido Ulisses. Confesso, eu não li Ulisses. Mas Poe, Dostoiévski, Kafka, sim! Sei que o poliamor não dá inferno, mas quem sabe, essa minha mania de amar menos alguém que não leu Kafka. Terminou o livro e o resumo que fez dele. Quis gritar ao primeiro que passasse na rua, "olha, eu te passo a minha versão digital por e-mail e também o meu resumo, por favor, por favor, leiam e tenham sobre o que conversar comigo!" 
Meu pobre coração, besteira julgá-lo.
Ela sentiu um pouco mais de culpa pelos próximos quarenta minutos. Logo superou. 
A admiração intelectual. Esse tesão.

Segunda-feira

Dessa vez, não cheguei a amá-lo, a dedicar meus versos e minhas serenatas, as noites de sonhos febris não foram pra ele. Embora eu segure firme toda grama de responsabilidade por esse - quase - romance, as minhas noites, os vinhos que tomei sozinha e com os outros. Mesmo que dele fosse a camada mais superficial de toda a minha pele, mesmo assim, sinto pela partida, embora pensasse que aqui eu jamais sentiria coisa qualquer. Não foi ele quem partiu. Fui eu. As fotos eu apaguei chorando no banheiro frio, o carinho que doi quando ele despeja todo o zelo, cuidado, paciência e afeto sobre as minhas feridas ainda abertas. Já fui tão amada... E apesar dele não ter me dedicado essas coisas que meus amantes artistas e criativos me dedicaram, bem, se não fosse algum tipo de sentimento genuíno, não teria chegado tão longe. Eu parti, então, porque cada gesto dele me fazia sentir medo. Ser vunerável nos braços de alguém, entregar-lhe todas as suas fraquezas, fortalecer e subir cada vez mais alto, pra depois terminar. Um dia me disseram que eu gosto dos relacionamentos impossíveis, justamente porque não há nenhuma chance disso acontecer. E eu não gostava dele, justamente por ser possível, real, estar acontecendo bem aqui, debaixo do meu nariz. 
Ele ainda não sabe que eu parti. Talvez segunda, quando ele acordar. 
Vai pensar justamente que eu não sentia nada. 

sábado, 24 de junho de 2017

Vastidão

Pobre vastidão, se esforça pra caber nos contornos que desenhei, trazendo algo mais de sentido, ou não. Contigo há mais formas abstratas, cores e sensações das quais não poderia decodificar senão pela arte ou a bebida. E ando esse tempo buscando um novo narrador pra contar essas histórias que eu escrevo. Pra começar, a sua vastidão rebelde não se encaixa nesses moldes que você teima em inventar. Ela atravessa as paredes, os outros corpos cinzas, as máscaras e manuais de instruções. Ela tenta caber na sua mente também, mas a mente é limitada demais pra todas as explicações. 
Eu, ao contrário, aprendi a domar a minha alma indomável e é minha mente quem precisa de ordem. O certo está, portanto, a três passos da desconstrução. E meu coração anansei por algo que me faça temer essa ideia que eu inventei de que de amor eu não morro. 
A gente está vivo agora. Amanhã eu recolho os meus pedaços. 

domingo, 11 de junho de 2017

Estrago

Gosto das palavras assim como gosto de café em dias nublados e de me preparar banhos mornos com cheirinho cítrico. 
- Eu te desejo um romance quente, intenso, fora de rotina, para que você não enjoe rapidamente, podendo beijá-lo à noite, escondido, atrás de uma parede ou debaixo das árvores. Que ele tenha aquela expressão no rosto, aquela de quem quer te desembrulhar lentamente com os dentes, e que ele tenha as mãos firmes, saiba falar palavras bonitas. 
Doces palavras e um café forte. Eu te digo, tome cuidado, pense antes, não saia falando a primeira coisa que lhe ocorre. 
Veja agora, meus versos vivos e ressoantes. Ensurdecedores. Quentes e flamejantes, caminhar por entre as estradas estreitas e escuras de uma paixão descabida.
Se bem que, há de concordar comigo, a incerteza é bem mais atraente. Nos rebelamos contra a nossa própria ideia de perfeição, a nossa casa azul com janelas e cercas brancas. 
Você me arruma um problema dessas dimensões. Não sabe o estrago que faz. 
No mesmo passo, andando a esmo e sem procurar resolver. Tomo cuidado com o som que as minhas palavras fazem, principalmente se sussuradas. Certeiras e bem pensadas, acertam em cheio bem na boca do estômago e mais pra baixo. De baixo pra cima, de baixo pra cima. Eu digo, então não chegue muito perto dos meus olhos. Eu professo ao vento, por escrito, suplico à lua e de todas as formas eu sou ouvida. Cuidado! Cuidado com o que diz. Nessa história toda não sou a que assopra. Sou o diabo em pessoa.
E isso me causa o maior estrago. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Minha querida super humana

Eu
fecho a porta e as cortinas,
só eu, sozinha
nesse quarto e nessa vida.
Eu me resolvo,
eu dou conta,
eu me basto,
eu me tranquilizo,
eu me presenteio,
eu me amo,
eu resolvo tudo.
E nesse embalo,
me alegro pelas minhas conquistas
e as ótimas escolhas que eu faço.
Eu sou forte,
tão forte,
que adoeço sozinha
por não me permitir ser fraca.
Me dou as mãos no espelho -
Orgulhosa e bela.
Eu gozo e eu sinto dor
em cada célula
que agora se sente culpada por ter sido humana demais.
A tristeza é ridícula e infantil demais pra mim,
portanto,
sou minha amiga e amante,
ou não?
Tão engraçado é que agora é o momento
de chorar rios.
É essa a deixa, a cena ideal.
Veja bem, eu choraria por mim -
Por mim! -
não por algum idiota que tenta bagunçar a minha paz.
Um pranto honroso e merecido.
Ria comigo então dessa piada infame:
Seguro todos os meus pedaços,
apertados na minha mão, eles doem!
E eu, mais uma vez,
não choro.
Porque sou forte,
eu dou conta,
eu me resolvo.
Só eu, sozinha.

E isso é tudo frescura.
Vai ficar tudo bem.

terça-feira, 23 de maio de 2017

That a kiss goodnight leads to another kiss

Querida, há muitos superpoderes novos nessa sua coleção, além dos sapatos com nomes de grandes cientistas ou grandes nomes femininos do jazz. Incrível a personalidade que ganhou o seu cabelo, os detalhes que incorporou ao seu novo Eu. Criatividade na solidão. Florescer após um coração partido e essas coisas facílimas de serem levadas pela primeira brisa. Você as tatuou pra sempre, até mudar de ideia. E os homens acham mil coisas pela forma como os conduz. Os babacas que não levam muito tempo para serem desvendados; os homens dos sonhos, eles ainda tentam descobrir de qual planeta você vem. São bons tempos para Lady Ella. É claro, nem tudo são bolos de cereja... Querida, há sempre esse único homem que fará você tremer toda nesse seu palco de autoconfiança. Não significa que é com ele que você deve ficar. Você é tão linda sozinha, tão linda! 

domingo, 21 de maio de 2017

Se eu te toco é pra ver se é real

Onde você leu que na lua cheia as mulheres ficam mais dispostas ao amor? 
Digo, não ao amor fora de moda, com esse peso de responsabilidade dos romances clássicos, mas ao amor carnal e transcendental. Com isso, todo esse papo furado, perdemos várias luas cheias, céus estrelados, as luzes amareladas e acolhedoras dos postes. Essas noites, das quais teremos algumas outras poucas antes do inverno rigoroso chegar. 
Olho pra você como quem diz "não tenha receio, pois debaixo da minha roupa não está tão frio como aqui fora, nem quente o bastante pra dissolver seu autocontrole em alguns bons pedacinhos". Ainda assim, guiaria a ponta dos seus dedos e te embriagaria do meu perfume. 
Você saberia como voltar pra casa, embora pudesse não estar totalmente inteiro ou então, inteiro demais que te assustaria. Se eu sou seu espelho, sua chama, sua coragem, o ponto culminante de todos os seus pecados, a sua fraqueza disfarçada de força, talvez porque eu seja acostumada a recompor meus pedaços antes que eles se quebrem. Assim como você, é o que me parece. 
Tenho asas nos pés, uma boa bússula que aponta sempre pro norte, não importa por quantos mares ou constelações eu passar. Me prove que eu deveria ter medo de sobrevoar você ao invés de apenas recuar por falta de algum sinal de vida. Eu sempre estou acima do cais, olhando todos lá embaixo, fugindo do que me é comum e patético, mas nunca dos problemas. E tem você, querendo se tornar mais um deles.
Não se preocupe. Na lua cheia, o nosso mel é mais doce e o veneno dos meus lábios também pode se converter em antídoto. Não se preocupe. Eu sou sozinha e não me permito ao capricho de sofrer. Se as palavras puderem nos ferir, então sussuramos em meio ao silêncio, discutimos as teorias universais e pessoais através do nosso olhar. Se agarrarmos somente o agora, o amanhã estará distante demais. 
Me encontre, então, debaixo da lua quando ela estiver cheia. E enfim descobriremos alguma coisa, que eu não sei bem do que chamar. 

domingo, 30 de abril de 2017

complicamos só por diversão

a vida aqui segue boa e calma
como uma cidade pequena em que
o céu fica rosa no fim da tarde.
o meu peito se fechou
se costurou e remendou
a tal ponto que ri da dor e
do amor.
sabe que as manhãs podem ser tão boêmias
quanto às noites de sábado num bar.
se eu acordo, me reviro,
me lembro que sonhei com você,
sinto todas as partes do meu ser que foram
esquecidas.
o que veio antes de você,
eu realmente o amei.
ainda era um amor da forma que conheço,
real e naturalista,
kafkiano. assim como eu.
e depois isso foi embora tão abruptamente
que sinto a neve.
ou melhor,
não sinto nada, de tão adormecida.
nada da cintura da cima, pra ser mais precisa.
a dor não existia no último sábado a noite,
mas hoje é outro dia.
o peito me aperta, eu sinto alguma coisa.
dessas coisas que ouvimos falar,
que os mortais e os idiotas sentem,
que eu e você ríamos quando nos conhecemos,
quando contamos um ao outro
que já não temos coração.
e eu não sinto isso por mais ninguém.
sou ainda fria e morta de amores triviais.
eu não sinto dor, porque isso é pros fracos.
você me deixa fraca, aos teus pés...
isso significa que eu gosto mesmo de você.
mas isso também significa que
eu não preciso ter você.
na realidade, você não fez o suficiente pra me merecer.
não sei como ficamos, então.
ficamos, nos beijamos e nos amamos
como deve ser.
e a única diferença entre você e eles
é que por você
eu teria dito sim.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Prosódia

Incrível como eu me apaixonei de cara pela sua voz. E não foi só isso, claro, mas todo esse seu coração altruísta que quer mudar o mundo com toda a calma e tranquilidade. Antes eu achava que você falava assim comigo porque estivesse sem vontade de falar, ou sono, ou outra coisa. Agora já me acostumei e vivo elaborando meios de te dizer que eu adoraria estudá-la num projeto da faculdade. É que a sua voz é toda assim. Com esse timbre e essa prosódia que me deixa fora do ar. Uma voz-inspiração. Esse seu sotaque que acompanha umas palavras que não estou acostumada a ouvir por aqui. E também, toda uma cadência marota que denuncia de onde você vem. Já que você demora tanto; já que quando vem, não quer ficar; já que vai embora com a mesma pressa-tranquila-praieira-hétero-cis-paulistana que veio. Me diz, loirinho, tem mais assim lá de onde cê vem? Me traz um da próxima vez! Mas que tenha essa sua voz...

terça-feira, 25 de abril de 2017

Combustão

Escrevo a fim de materializar. Não sei, parece que os outros o descrevem melhor do que eu, que agora pouco ainda sentia o cheiro dele. E se me perguntam se estou apaixonada, se me alertam da encrenca na qual eu me meti, já não sei explicar muita coisa. Eu leio, ele se materializa. Eu pisco, ele já se foi, deixando só a fumaça no meu cabelo. Dia desses, cheguei mais perto e verifiquei se era mesmo real, pois podia ser tudo alucinação, uma história daquelas que ouve um velhinho contar no elevador. E então, cá estou com a mesma dúvida. Ele é real? É de verdade? Seria tudo uma construção da minha mente pra culminar numa só pessoa aquilo que me é mais excitante e mais desafiador? Uma dualidade que te alinha pra depois te desmontar. Um teste pra minha paciência e auto controle. Ai, ai...
Te anunciaria por aí às mulheres solteiras de meia idade e ganharia milhões.
Pena que o isqueiro está comigo. 
E aí, a combustão. 

sábado, 22 de abril de 2017

Nua

É, sou corajosa. Dentre tantos motivos, também sou corajosa por ser uma escritora que usa as próprias experiências de vida como matéria prima. Admiro muito os ficcionistas, também gosto dos meus textos ficcionais, mas reconheço que é preciso um bom tanto de coragem para falar de si, para falar dos seus sentimentos, para falar de quem se ama, vez ou outra, até escrever dedicatórias. 
Não pensem que é só escrever e pronto. Muitas vezes, ficar nua frente ao texto e ao público, se lembrar de que arte é arte e do juramento que fiz de nunca podar a minha arte, mesmo sabendo que o carinha mencionado vai ler ou que o carinha não mencionado virá me fazer perguntas. 
Eu sempre me cubro tanto de metáforas e essas técnicas que a gente aprende lendo o texto dos outros, que hoje eu resolvi vir aqui nua mesmo, usando apenas meus brincos de hematita. 
Vim aqui dizer pra essa tela em branco do meu computador e também dizer pra mim mesma que está difícil se abrir pros outros e encontrar algum tipo de apoio nas minhas empreitadas malucas. As pessoas têm medo por mim e vivem me dando conselhos... Conselhos... Acho que ainda devo ter cara de ingênua, sei lá. 
Estava me olhando no espelho agora pouco, sem maquiagem. Me sinto diferente, confiante e leve. Olho pra imagem e enxergo meus olhos puxados de índia, minha pele dourada e juro pra mim mesma nunca clarear o cabelo, pois fico bem assim. Nesses últimos feriados eu engordei um pouquinho e fica bem perceptível quando começa a aparecer uma covinha na minha bochecha. Estou feliz. Estou satisfeita como nunca estive antes. Eu me acho bonita, não tenho mais vergonha do meu corpo frente aos outros, sou autêntica quanto ao meu estilo, descobri um poder fora do comum quando uso meu olhar (principalmente quando sei que a outra pessoa não é tão segura quanto eu), mas eu também adoro o fato de virar uma pamonha medrosa quando estou apaixonada. Faz parte. E isso é bom. 
Ainda frente ao espelho, enxergo o meu pai. Apesar do meu momento poeta não ter sido influenciado por ele, estou toda orgulhosa por termos isso em comum. Meu pai é poeta, um poeta dos bons, tão bom que conquistou a garota mais difícil da fábrica com suas cartas de amor. Eu nasci no meio dos versos, isso não é demais? 
Minha mãe, a moça séria, a mais bonita, a mais reservada e a mais difícil. Metade da minha personalidade e esse nosso corpinho de Barbie que não engorda nunca. 
Eu me enxergo tudo isso e mais um monte de coisa. Mas ingênua não. Eu sou forte, corajosa. Posso estar um pouco perdida quanto ao que eu quero, mas eu sei exatamente o que eu não quero e isso mantém meus dois lindos pés bem fixos aos chão. 
É sábado. Eu não quero ninguém ocupando os meus sábados. E isso não é fruto de nenhum sentimento ruim, muito pelo contrário. Só quero uma folga, quero não ter que me preocupar com o resfriado de ninguém, só com o meu.
E nesse tempo sozinha eu conheci pessoas incríveis, algumas delas, já vou avisando, ninguém vai tirar de mim. Eu me apaixonei e desapaixonei algumas vezes, confesso. Mas algo mudou nessa minha maneira de me apaixonar e me entregar ao longo dos anos, por exemplo, eu daria todos os "não" que fossem preciso pros caras legais em que eu estivesse só apaixonadinha. Eu já namorei alguns caras legais. Os caras legais são ótimos, mas eles não chegaram às camadas mais profundas do meu coração. Eu estou fugindo da superficialidade, Deus, como eu estou fugindo e isso é extremamente difícil. Há coisas que eu sinto e eu nem chamaria de amor, é outra coisa, e que me faz virar do avesso. Eu sinto! Eu sinto por pouquíssimas pessoas! Eu sinto apesar do bem e do mal, do moral e do imoral. E eu não namoraria por menos. Eu não namoraria só porque o cara é legal.
Bem, só queria eternizar mais um dos meus momentos de inspiração frente ao espelho, numa troca sincera de amizade e empatia comigo mesma. Eu estou linda. Eu não preciso mudar nada, nem comprar nada e sou grata por tudo. Grata principalmente a minha escrita, sempre aqui quando eu preciso, a arte pela arte, com o propósito de transcender, sem julgar, sem conselhos triviais, só por repetir aquilo que se ouve do senso comum... "Essa não é uma boa hora pra você se apaixonar"... "Esquece ele logo!"... "Toma cuidado com essa história toda"... 
Bobagem.
Bobagem. 
Eu sinto tudo. Eu sou minha própria guia. Eu confio eu mim. 
É, sou corajosa.

domingo, 16 de abril de 2017

Talvez sejamos feitos da mesma substância química

Não terá de mim um acordo por escrito,
Um poema claro o suficiente com seu nome
Bordado na minha camiseta rosa bebê.
Porque minha liberdade e libertinagem são irmãs gêmeas separadas,
Uma no meu coração,
Outra nas solas dos meus pés.
É preciso percorrer todo o resto.
Por mais que você seja um leitor experiente
De Guerra e Paz
E das dores e prazeres do mundo,
Você quase sempre me decodifica
A não ser pela parte minha (e sua)
Que só eu consigo ver.
E que você, por sua vez, não acredita.
Você me aflora, me floresce, me dá uma certa coragem pra burlar as regras.
E estar ao seu lado é como encontrar uma certa extensão,
Uma continuação de mim.
Eu rodeio, tateio, uso todos os meus seis sentidos e vou a fundo em você.
Me esqueço das beiradas, das suas margens
E dos objetos pontiagudos que você enterrou na areia,
Depois cobriu com cimento.
Estamos lá, tentando nadar um no outro,
Vivendo essa experiência louca que eu chamo de
Você e eu.
Eu e você.
Moi et toi.
Seja meus altos e baixos!
Seja minha má influência!
Seja em mim
Até quando for.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

As mãos

Nas minhas mãos não encontro beleza,
Perversão ou prazer tamanhos
Quanto no íntimo dos teus olhos.
Elas sim me satisfazem pois me compram quinquilharias reluzentes,
A arte, os poemas que me seduzem.
Me afagam os cabelos,
Essas suaves mãos,
Me permitem a sina de escrever o verbete ideal
Que arranca um gemido ou outro
Dessa sua boca
Austeramente desenhada.
Seus toques de seda,
Premeditados,
Voltam-se contra mim quando sob a minha roupa.
Já não quero mais as minhas mãos
No 505 ou num corredor apertado de biblioteca,
Entre uma estante ou outra,
Entre Kafka e Álvaro de Campos,
Meia luz, a segunda taça de Merlot,
A distância entre a sexta feira e o final de domingo
Que é quando eu fico mais aflita.
Não as quero,
Por ora,
As rechaço.
Meu corpo todo quer um arranhar de barbas
Por entre os meus joelhos
E as tuas, as tuas mãos!
Procuram, apertam, arranham, se demoram
E deixam na pele o toque, mesmo depois de cessar.
Fortes, quentes, loucas, inconsequentes, fundas, profundas.
Mãos que não sejam as minhas próprias,
Ao final de um domingo,
Buscando lá no fundo da alma
Algum toque
Teu.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

breezeblocks

Marquei de fazermos amor hoje à noite, assim que chegasse em casa, ao som de Alt-J e suar, suar, até que a levantássemos a temperatura da cidade toda. Estou aqui na minha cama, sozinha, lutando contra o sono e pensando que eu dormiria na primeira música, antes que você terminasse de tirar meu sutiã. Tudo bem, querido, deixemos pra amanhã, feriado, no almoço em família em que eles discutirão a violência no país. Enquanto isso eu beijo aquele caminho de perdição entre seu umbigo e seu... 

Na minha mente, eu e você, o tempo todo, o tempo todo... 

Aproveite os minutos antes de beijá-la

É tudo questão de um mero capricho. Os vestidos, por exemplo, a seduziram com suas curvas bem ajustadas e pernas de boa moça, que frequenta a igreja aos domingos pela manhã. Tão sérios os três que ficariam lindos jogados no tapete do quarto dele, do lado da cama, um em cada dia da semana, às terças, quartas e quintas. Conheço algumas que enfeitariam esses vestidos comportados e você também irá se lembrar de uma ou outra que conheceu na adolescência. Quando pensar nisso dentro de um elevador, ver no espelho suas olheiras de noites mal dormidas tentando entender essas garotas de bar que parecem não ligar pra vida de ninguém, lembre-se apenas de como dançam nesses vestidos comportados, fazendo com que tudo pareça ter vindo direto do inferno, queimando no seu colo. É um mero capricho dos deuses pra florear os dias comuns. No fundo, se conseguir levá-la pra casa, verá como seus cabelos acordam bagunçados de manhã e que não saberia lidar com essa leoa na segunda feira às 18 horas após um trecho de trânsito na cidade. Imaginar tê-lo de todas as maneiras possíveis - e impossíveis -, depois se perguntar se isso está mesmo acontecendo; implorar pra que a resposta seja não, fazer amor e fazer amor de novo. Ter a realidade ao alcance dos dedos, continuar desejando a ilusão. Preste muita atenção quando ela dançar em cima da sua cama, nua ou só de calcinha e camiseta, fotografe esse momento na memória e não deixe ela saber que gosta muito disso, a não ser pelo desejo no seu olhar. É apenas um capricho. Não pode ser banalizado. Não pode deixar de ser um capricho. Ou então, perde toda a graça. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Mais um poeminha pra quem não me merece

Ando escrevendo tanto e sentindo tão pouco.
Desde aquele beijo e do seu ponto final,
ou vírgula,
colocadas na oração errada,
que não me sinto mais parte de um nó.
Talvez a dor movimente um pouco a vida
de quem é sempre feliz consigo mesmo.
Me parece sádico, mas quem garante que não é?
Me prometeram mordidas e cenas quentes
e que o doi em mim é só a ausência entre um encontro e outro.
Se bem que, nem doi tanto e eu sinto falta da dor.
Gostava de não dormir e não estudar pras provas
por estar falando contigo dias inteiros.
A vida dos príncipes encantados é absurdamente pacata.
Você dormiria só de olhar como eles seguram a minha mão.
Bem, você me acendia só com uma mensagem falando sobre uma consulta médica.
Não há roteiro pra isso.
Você nasceu foi prar acabar com a minha vida!
Então, por favor, vê se faz logo às honras!

Extravagância

Ando planejando estratégias pra aperfeiçoar meu plano de fuga. 
Mostrei olhares por aí e não imaginava o quão perigoso seria
deixar que eles me olhassem por mais de dez segundos. 
Confundi minha definição de experiência com o erro tolo
de separá-la da intensidade. 
Eu sou e sempre fui uma mulher solitária 
e então chega essa gente me ensinando
duzentas e sete maneiras de aproveitar a vida
no meio da multidão. 
A vida veio disfarçada com uma fachada bonita
de prazeres terrenos e meramente visuais.
E eu me rendi,
esquecendo que na verdade nem desse mundo eu sou.
Hoje me puxei pela mão,
me guiei num passeio íntimo,
deitei sob a lua e deixei que ela limpasse minha aura. 
Eu não suportaria mais um único beijo que não me fizesse 
transpirar,
ofegar, 
inundar. 
Nunhuma energia outra que provocasse pouca incandescência. 
Eu nasci brasa e frenesi, 
não sei estar perto sem querer estar. 

Ando planejando estratégias pra aperfeiçoar meu plano de fuga. 
Preciso da minha doce solidão pra que eu possa me dedicar
(e me deliciar)
a uma obsessão de cada vez. 

E não há nada que os outros possam fazer... 




domingo, 9 de abril de 2017

Solto, você vem...

Há algo sobre eu e você, uma coisa além do que meu entendimento alcança e metafísico demais pra se ver a olho nu. Dessas coisas que não se pode explicar e que os escritores, poetas, artístas e cineastas tentam a todo custo capturar e fazer com que as outras pessoas sintam. Eu senti isso agora, uma faísca, um décimo de segundo noutro plano em que eu e você pudemos nos materializar. Nos materializar como tal, eu e você, dividindo a cama, o cobertor, o mesmo copo, eu usando a sua camiseta num domingo a tarde e você sendo aquele cara que me leva pra conhecer a mãe e conquista a confiança do meu pai. Eu e você como a coisa mais maluca e improvável, pois amanhã logo que eu acordar, vou pegar minhas coisas, amontoar na mochila e sair por aí resolvendo a minha vida, feliz por estar sozinha. Esse eu e você já ultrapassou os meus limites de autossuficiencia, por um instante eu só queria que você me chamasse de "minha" e abaixasse a sua guarda pra que eu pudesse fazer você feliz. Você é também um dos meus maiores medos, e olhe lá, eu nunca sinto medo. Você casualmente fazia falta, mas já nem faz mais. Eu não gosto de ser a mulher que você me deixa ser, porque eu sou tão maior que isso que você me dá espaço pra mostrar. Mas esse texto aconteceu, em um momento em que fechei os olhos e então eu e você foi tudo o que senti em meu coração. Olha que ele não se engana... Se uma estrela passar aqui nesse momento, se os deuses se reunirem e decidirem por nós dois, querido... 
Eu te faria feliz e você me apresentaria o tal do amor que eu ainda não conheci. 

Esse garoto está sempre ali na escada, fumando um cigarro e arrumando o cabelo

Entendo quando me perguntam porque ainda não o beijei. De fato, ele é muito bonito e nem eu mesma sei dizer o quão forte, ou boba, estou sendo perante essa situação. Ele encontra o ponto culminante de todo o meu desejo dissolvido e repartido entre os dias, os olhares, os beijos na bochecha, bem perto dos lábios. Daqueles que você usa pouco com medo de gastar; sente o cheiro antes de morder.
Realmente, ele é muito bonito. Não uma beleza dada e escancarada, mas uma explosão nuclear de sensações que ele me desperta quando sorri de ladinho ou mexe no cabelo. Costumo dizer que também precisa ser uma alma bonita pra conseguir admirá-lo por completo.
E dentre todos os meus planos, textos, poemas, meus prazeres solitários, melodias excêntricas, rimas sujas, homens de meia idade ou qualquer outra maneira de retomar as rédeas da minha vida, não fui capaz de substituir a sensação que é ser fitada por ele.
Esse garoto está sempre ali na escada, fumando um cigarro e arrumando o cabelo de um jeito que você não encontrará em qualquer esquina. Fica ainda mais bonito quando fala e ele é capaz de fazer com que você esqueça tudo o que já aprendeu até chegar ali.
Ele vai te trazer pra bem perto e fazer com que você se queime com o calor do corpo dele. Vai te tratar bem, elogiar você como John Keats elogia Fanny. Não há como ficar muito a vontade. Ou há, se você sentir vontade de levá-lo pra outro lugar. Isso sempre me ocorre.
Não pude encontrá-lo, olhar pra ele e deixá-lo ali da mesma forma que o encontrei. Você também não seria mais a mesma e não tem como reparar todo esse desastre.

A vida está muito boa. Até ele aparecer. Me desestruturar. Eu não sei lidar com tudo isso.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Você tem todos os beijos que eu ando economizando por aí

Não há como te defender.
Nem pra mim mesma, nem para os outros,
apenas busco desculpas ou mentiras
pra justificar o meu desejo.
Digo que você tem lábios macios,
embora eles não tenham percorrido o caminho que você traçou.
De fato, seus lábios macios não fizeram nada além
de falar frases soltas com essa sua voz maldita de gostosa
e acabar com o que sobrou de mim.
Você se fez presença independente das 60 canções que nos separam.
Você entrou pelo machucado que havia em mim
e agora você ainda corre em minhas veias,
sem eu saber explicar por que.
Isso não havia de ser nada demais,
visto que sou eu. E nós dois sabemos bem disso.
Mas havia de ser você, ou sua ausência,
pra me fazer morder os lábios
e pedir, gemer por mais.
Você nem aguenta me olhar nos olhos.
Você tem medo de quê?
Do meu quadril em você
ou do meu coração em você?
Tolo! Tola!
Não encontro explicações pra justificar
que você tem de mim
tudo aquilo que você quiser.
Mas resta saber,
você quer?

auê

Sou teimosa. Pacífica, mas teimosa. Nunca dei muita bola pro que os outros falavam sobre eu sei fria e insensível, mas algo de estranho me faz pensar que todo aquele papo furado é a mais pura verdade. Bom, não mais. Por exemplo, percebo o quanto essas pequenas paixonites do dia a dia me fazem escrever muito melhor do que o tal do "grande amor da minha vida". Talvez eu já devesse desistir de basear esse termo nos romances do Flaubert, pois mimimi demais não me deixa comovida, mas enojada. Sim, sou teimosa. Sou do contra. Jamais beberia veneno por alguém, pois desde que nasci sempre fui o amor da minha vida. Então isso é o que? O que é o inverso de alma gêmea? O que é que essa bagunça toda faz em mim pra eu poder escrever bem melhor que antes, o que um "amor da minha vida" tem que fazer pra que, no final do namoro, eu sofra ao menos um pouquinho? Não sei. Estou descobrindo. Sou teimosa e continuo ouvindo Mardy Bum repetidas vezes a tarde toda. Talvez eu tenha nascido pra ser só minha.

Pra onde está me levando?

Você passaria uma noite toda comigo, deitado ao meu lado debaixo dos planetas, observando as luzes da cidade que brilham pra mim, me ouvindo contar sobre minhas teorias, sobre a vida e o passado que tentou me ferir, sem sucesso. Tentaria entender que meu deboche pela dor vem do fato de que também rio da cara do amor verdadeiro, a alma gêmea. Em todas as frases que eu disser, você completaria a última palavra e saberia todas as referências literárias que saíssem da minha boca. Eu ficaria perplexa com todos os assuntos e por um mundo enorme caber dentro de uma pessoa só. Você me contaria casos de amor, verdadeiros ou não, mas seriam boas histórias. Eu mentiria dizendo que não fico excitada quando você coloca seus óculos de grau e você me provocaria pra saber até onde vou nessa história toda. Eu escreveria mais um pouco ali pra você, terminaria a noite exausta de tanta novidade acontecendo na minha vida, implorando pra que você acabe com ela. Eu usaria menos metáforas, o quanto fosse possível. O menos de roupa quanto fosse possível ali naquele lugar escuro, debaixo dos planetas, observando as luzes da cidade que brilham pra mim. Não sei onde mais procurar por tudo isso, porque há apenas um lugar onde eu gostaria de estar. Nem sei se esse lugar existe mesmo, ou se é em algum canto dentro de mim que ninguém jamais esteve. Eu escrevo pra me esvaziar de tanto lirismo, que atrapalha a minha vida por achar que dessa vez não vou debochar de nada. Você me faz achar que não. Eu escrevo, escrevo, isso não é o suficiente. Você acaba com a minha sanidade e eu ainda peço por mais. 

A rosa e a peônia

São elas, as duas mulheres inquietas, boêmias, no canto do bar escrevendo baladas em guardanapos. Seus olhos intensos e profundos, um abismo dentro de si. Olhos castanhos, essas duas mulheres. Gostam de flores, mas uma fica com peônias e a outra com rosas vermelhas. Um mero detalhe que o fez se apaixonar, por uma e por outra, sem saber de tanta e tanta coisa que havia nessas mulheres. Pele clara, uma e outra, cabelos castanhos, avelã ou chocolate, eu já não saberia dizer, embora ele soubesse diferenciar a textura de cada uma delas, de olhos fechados. Essas cinturas, dessas mulheres, qual o estilo que cada uma se identifica mais, mesmo com uma biblioteca em comum. Elas sorriem igual. A língua que elas falam é a mesma. Ah, por favor, não me diga que não notou que elas poderiam ser uma só. As mulheres dele, mesmo sendo delas mesmas. Havia tanto para se agarrar nelas, então o que foi que acontecera ali? Ouviu-se falar do mesmo homem, aqui e ali, pelas duas bocas que coincidentemente usam o mesmo batom. Elas o descrevem nas linhas uma da outra, talvez o amassem eu outra ocasião ou contexto, talvez cada uma delas pudessem procurar onde lhes foi que nelas doeu mais. Onde foi que ele segurou mais. Repartiriam os poemas ao meio, compartilhariam, os três, uma taça de vinho, ora, ora... As duas são feitas de vinho. Elas são uma só, ele não notou. Então elas se deliciam com isso. Elas o comem e lambem seus ossos no final. Escrevem palavras de amor. Brindam juntas no final. 

72 horas

Eles fincam seus olhos em mim, nos meus laços de cabelo, lábios de cereja e cara de mimada. Seguram minha mão de leve como se fosse pra não me quebrar, tocando meu rosto de porcelada com cuidado, dizendo duas ou três frases clichês sobre como eu ficaria bonita num almoço de domingo. Eles se assustam quando descobrem a minha liberdade e a capacidade que tenho em dizer mais não do que sim. Porque sou mimada e egoísta, eles dizem, porque nada é bom o suficiente, nem a dor que podem me causar. O que ocorre é que esse percurso todo eu já conheço, eles, muitos deles, ainda não. Ora, não sentirei nada além de uma carícia se algum desses homens tolos, de repente, forem embora. Levarei 72 horas, não mais que isso. É sempre no terceiro dia em que recolho do chão um brinco ou outro que deixei cair. A liberdade é um espaço grande demais, pois é preciso um sentimento grande demais. Os jovens amadores, os velhos amadores, os intelectuais de direita, os medrosos e os vendedores de flores, eles nunca entenderiam. É preciso ter uma liberdade do tamanho dessa pra poder enxergá-la dentro dos meus olhos. Poucos olhos os que me fazem ser mais livre e inconsequente. Me impulsionam. As palmas das mãos dos intelectuais de direita são macias demais e puras demais. Ei, eu não sou frágil. Eu inclusive já tinha me esquecido do gosto do medo. Me venham com dores banais e beijos banais, flores banais e já terei vivenciado tudo isso. As palmas das mãos, nelas deve haver um paraíso proibido, dor demais, daquelas que nunca senti. Eles, que não entendem dessa liberdade, eles nunca irão me prender. 72 horas. É o tempo que eles têm. Quem sobrevive depois disso? Não sei, eu nunca estive do lado de lá. Da dor, do prazer, além de onde minha vista alcança, dos meus limites. Se não for me levar pra lá, me poupe do trabalho de te dizer "não". 

terça-feira, 4 de abril de 2017

Você e todos esses jeitos de me beijar que eu ainda não conhecia

O relógio avisa, 
É madrugada! 
Vem você, sempre intenso
Despeja em mim seus elogios
Põe teus versos pra me entregar teus beijos
E me acende ainda mais.
Noutro dia, 
Quando apontam os raios de sol,
Coincidentemente 
Eu acordo mais bonita. 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Bruxa

Vem! Faça um círculo de sal grosso ou alho ao meu redor, me proteja dos morcegos que querem fincar seus dentes em meu pescoço. Me livre dos sapos, dos meus cabelos soltos e ondulados, das minhas vestes pretas que lhe causam sensações. Vem! Pra me cobrir ainda mais, pra me encher de panos de seda, palavras doces, antídotos aos montes. Me proteja do mundo, dos homens, da maldade. Me alimente pra me engordar e me proteja de quem me quiser em cima da mesa, num banquete. Sou frágil? Uma princesa? Você pensa que sim?
Tente me queimar na fogueira que acendeu ao meu redor: descubra que eu tenho asas. Eu os alimento com meus poemas pra depois me deliciar. Seus alhos e sal, tempero sua salada com poucas calorias. Eu fico com o que há de mais errado. Vem! Vem só pra sentir eu escorregar por entre seus dedos e me juntar aos morcegos em cima das árvores. Não tente me salvar: eu organizo meu próprio resgate. Sou a bruxa, não percebe? Tenho uma série de cabeças expostas, tenho radar pros teus galanteios, um caminho de flores até a entrada da sua gaiola.
Vem! E me observe fugir.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Respira...

Meu alegre e meteórico instante ainda ressoa, pulsa, vibra com o grave do meu peito. Me disseram pra não escrever poemas, pois eram sentimentais demais. O que dizer da minha prosa nua? Se eu lhe escrever uma prosa ou uma bossa nova, nada vai me devolver aquele instante que mantive os meus olhos nos seus. Aproveitei o que pude, agora já não posso mais. Entao escrevo! Você me despiu mais uma vez, agora mais de perto, usando esse olhar curioso. O tremer de frio ou de outra coisa que balança as folhas nas árvores e os meus cabelos. Minha lua cheia, meu perfume-veneno, meu Bloody Mary e meias arrastão. Me leu e decodificou minhas pupilas dilatadas. Esqueço, já não sei mais contar até cinco. Pudera eu escrever versos duros pra falar de ti. Mal sei de mim agora em que você me provou que tudo que já treinei não me serve de nada. Quando você vem. Pousa. Paira. Respira perto mim. Aproveitei te olhar nos olhos um instante lindo e meteórico. Agora, se olho meio segundo, você me fuzila. Eu me desfaço em plumas.

Pulsa. Pulsa. Respira mais perto de mim.

terça-feira, 21 de março de 2017

Equinócio

Equilíbrio perfeito entre o dia e a calada noite
Brisa amena e virtuosa que arrastam as folhas secas do verão
Permitir soltar, murchar, dissolver amores na imensidão
O passado que já não me serve de consolo, mas de açoite.

Desprender e liberar
Nossas mãos e lábios de sol
No lugar, chuva de março, lençol
Amassado, desembrulhado, cama nova pra desarrumar.

Soltar sem dor, lembrar sem dor, sem dor encararmos a nós próprios.
Outono, meus dias de Saturno,
Sóbrios são os meus deleites e pecados de amor.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Ela não quer mais saber de paz

Acordou no meio da noite, aflita, sem saber o que estava acontecendo. O coração pulava, doidim, apertando os pulmões ou esôfago, seja lá o que estava apertando, mas apertava. Olhou pro lado, o noivo ainda estava ali depois da terceira briga da semana, o cabelo dele bem que podia ser de outra cor, se fosse um pouco menos opaco, se ele de repente usasse o mesmo shampoo que ela... E o coração ainda saltitava, rolava, meu Deus, o que havia de ser esse carnaval todo aqui dentro? Tentou se lembrar do sonho, tudo em vão. O coração não pulava assim havia tempo, dava pra se ouvir bater do lado de fora, as veias do pulso, do pescoço, pulsavam, pulsavam. Aquele novo colega de trabalho que chegou essa semana da outra empresa, será que o sonho foi com ele? A respiração ainda mais ofegante do que as trepadas casuais com o pobre infeliz ao seu lado, ah, se ele soubesse sorrir meio assim de ladim... Fechou os olhos. Entendeu o que estava acontecendo e resolveu aproveitar. Com a culpa de lado, com o noivo do lado. Fechou seus olhos puxadinhos de gata siamesa, mordeu os lábios como uma adolescente apaixonada pelo professor, deixou o coração bater e bater e bater e bater até sossegar num longo suspiro. Não sabia mais como sentir aquilo tudo, estava farta de tanta paz. Agora, uma máquina que passa destruindo o que encontra pela frente, sem deixar nem um cadim de nada. Uma moda nova pra sua vida pacata, casa-trabalho, casa-trabalho, casa-trabalho. Alguém com quem trombar pelos corredores, um olhar safado que levou toda a sua calma e a sua paz. Não, nã-não. Ele sorri de ladim e ela não quer mais saber de paz. 

segunda-feira, 13 de março de 2017

O que você viu nele?

- Não sei ao certo. Ele é diferente dos outros. Acho que começou pelo fato de eu não estar nem um pouco interessada e ele me conquistar.
- Geralmente tem sido o contrário. 
- Gostar dos impossíveis, eu bem sei.
- E o que mais? 
- Gosto do jeitinho dele. Da parte dele que é exatamente igual a mim, mas principalmente do que nos faz diferentes. Gosto das músicas estranhas que ele pede pra eu ouvir e das cantadas baratas. Passo horas rindo. 
- E fisicamente? 
- A voz é uma característica física? 
- Acho que sim. Pode ser.
- A cor dos olhos dele eu nunca havia visto. Em cada foto parece diferente e, pessoalmente, é ainda mais intrigante, já que esses olhos ficam me encarando. Gosto da cor do cabelo dele, do cheiro bom que ele tem. Os lábios são macios, o sorriso... Gosto das mãos também. Não sei explicar. 
- Eu não te entendo.
- Não sei exatamente como isso foi acontecer, mas simplesmente ele é o meu preferido. Ele me deixou absorta e fisgada. Isso não era pra ter sido assim, era pra ter sido superficial. 
- Então foi algo que ele fez. 
- Ele me fez companhia. 
- Isso não basta. 
- Ele agiu como um cara normal, não romântico, até um pouco atiradinho. E eu estava me esquivando. 
- Até que...
- Até que eu chamei um colega de classe pelo nome dele. Isso foi a gota d'água.
- Totalmente fisgada. 
- O nome dele nas notificações me deixa sem ar. Eu sei que há nele algo de que eu gostaria de conhecer. Algo que ele faz, um jeitinho de passar a mão no cabelo, ou o modo como segura os talheres. Ele tem algo de que eu preciso e não sei o que é.
- Bom... 
- Dentre outras coisas, claro. 
- Eu sempre soube.
- Mas isso não faz muita diferença agora que a minha vida está voltando aos eixos. Só caminho no escuro sentindo muitas outras coisas e conhecendo outros caras extremamente divertidos, inteligentes, com olhar matador e voz bonita. Até que eu seja fisgada de novo. Fora do controle.
- E isso é muito bom! 
- Logo eu...
- A controladora.
- Quem me dera perder todo o controle de novo, totalmente desarmada como ele me deixou. 
- Mas, dessa vez, sem fôlego, sem roupa, de quatro num quarto de hotel.
- Amém!

terça-feira, 7 de março de 2017

22 coisas pra se sentir com 22 anos (seja lá qual for a sua idade)

1. Dançar em cima da cama.
2. Passar a tarde no shopping com sua melhor amiga e seu cartão de crédito. Sem os namorados!
3. Comprar uma tiara de gatinho igual ao da Taylor Swift no clipe de 22.
4. Flertar com o DJ ou o vocalista da banda na balada.
5. Estacionar o carro longe da festa e, de madrugada, ligar pra alguém e dizer: "conversa comigo esses dois quarteirões até eu chegar no meu carro, vai que sou assaltada e morta, né?"
6. Encher o carro de amigas e gritar "casal teen!!!" pra dois adolescentes se beijando.
7. Adotar uma identidade falsa naquela noite que você não quer passar o telefone pra ninguém.
8. Ligar pro ex das antigas.
9. Fazer uma horinha na papelaria antes de ir pro trabalho.
10. Subir numa árvore com seus primos menores.
11. Brincar de verdade ou desafio.
12. Tirar fotos sensuais naquele dia em você tá se sentindo muito gata.
13. Aprender e praticar novas "cantadas".
14. Festa do pijama like a Waldorf.
15. Fazer brownie com sua amiga (e queimar o dedo fazendo isso).
16. Assistir Netflix pelo celular, no meio da faculdade, em plena terça-feira e morrer de rir.
17. Combinar com sua amiga de flertarem juntas o mesmo cara, só pra ele ficar sem graça.
18. Criar uma agência de namoro só pra ajudar sua amiga a pegar o boy que ela quer.
19. Cantar Like a Virgin na sorveteria com seu melhor amigo quando ele vem te visitar.
20. Tietar um artista plástico no inbox do Instagram.
21. Ir numa batalha de MC's uma vez na vida.
22. Sexo casual.

Bibelô

Um único momento que eu vou guardar comigo pra sempre, feito um bibelô, arrastado pela eternidade afora na boca do povo, falando sobre esse texto aqui que eu escrevi pra me lembrar de você. 
Não vi a cena toda, eu estava apagada e entregue em meio a calafrios febris, calor, frio, calor, frio, calor, remédios amargos. Eu sentia você ali do lado, me vendo dormir. 
Eu não estava dormindo. Estava apagada, isso são coisas diferentes. Eu não durmo perto de quem eu não ame ou confie totalmente. Então eu senti, por horas a fio, você ali, me vendo dormir. 
Me cobria vez ou outra, tirava do meu rosto os cabelos desgovernados da moribunda, fazia carinho nas minhas bochechas tão de vagar que aquilo quase me levava pra outra dimensão. Era o amor. Não em mim, talvez nem em você. Era o amor no espaço entre eu e você. Um amor por horas a fio, até que eu acordasse do meu transe e me aninhasse uma última vez no seu peito. 
Fico feliz por não estar dormindo e me lembrar de tudo isso agora. Um bibelô daquela viagem de uma noite, fria e febril. 
Sei que você gosta quando eu te laço com as minhas pernas bem forte e bem apertado. Embora você se olhe no espelho e repita pra si mesmo o quão musculoso está e quão másculo fica com essa barba sempre bem arrumadinha, sei que seu coração é totalmente submisso. 
Você prefere que eu te diga o que fazer, pra onde vamos sair e fica esperando atento a minha opinião sobre sua roupa e a música que está tocando no rádio. Não sei por que ainda discutimos sobre alguns assuntos, feito duas crianças mimadas querendo ter razão um sobre o outro. 
Eu te deixo ganhar e você me devolve aquele olhar de menino orgulhoso, o meu homem, o cara que abre a porta do carro esperando me ver feliz. 
Dentre todas as suas sacanagens ao pé do ouvido, gosto quando diz "sim, senhora!" em resposta a um pedido meu. E quando você faz o que eu quero, gosto de dizer "good boy" e te dar um beijo como recompensa. 
Gosto do fato de ser na cama o único lugar em que eu te obedeço e satisfaço seus caprichos, deixando você me desembrulhar e me virar do avesso, aqueles olhos bobos de menino quando, finalmente - finalmente! - domina essa mulher teimosa. 
As mulheres regem a sua vida e você está sempre aos nossos pés. Não sei por que ainda exibe essa pose de desinteressado. É sua defesa, nos ama tanto que nos teme. 
Mas eu não vou te machucar, meu menino, posso te deixar brincar de dominar, me fazer dormir no seu peito, no banco de traz do carro ou me cobrir com seu moletom. 
Eu sou minha, sou inteira, sou mulher. 
Mas, se quiser, pode me levar que eu deixo. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

O que há de tão arrebatador em O Grande Gatsby (e alguns spoilers)

Li O Grande Gatsby pela primeira vez quando eu tinha 15 ou 16 anos. No primeiro momento, foi arrebatador. Achei que ele seria tão emocionante quanto naquela época, mas me enganei. Continua sendo uma obra de arte de fazer qualquer um chorar, mas como eu já sabia o enredo de cor, pude deixar a emoção de lado e ter um olhar mais maduro frente a outros aspectos. Eu pre-ci-so relatar minhas novas impressões.

Se você já assistiu ao filme, ou pelo menos o trailer, deve se lembrar da cena em que Gatsby joga suas camisas escada abaixo, formando assim uma chuva de seda, muito dinheiro caindo do céu, macio e colorido. Essa continua sendo uma das minhas cenas preferidas. Não há descrição mais fiel do que as de Fitzgerald. Você está lá, em suas festas, vivendo o sonho americano nos anos 20. Beleza, dinheiro, luxúria.
Outra cena magnífica e, pasmem, engraçadíssima, é quando Gatsby enche a casa de Nick de flores, pois vai se encontrar com Daisy aquela tarde, na casa do amigo. Aquilo se transforma em uma floricultura, ou melhor, uma floresta (só com flores, se é que isso existe). Achei romântico aos 15, mas agora, isso foi extremamente cômico. 
Há certa crítica ao consumismo, ao dinheiro e a essa vida luxuosa e isso fica claro no final, quando toda aquela gente que frequentava as festas de Gatsby, ninguém compareceu ao seu velório. Outra parte tocante é o único elogio que recebeu durante todo o romance, vindo de Nick: - É uma gente ordinária - gritei, através do gramado. - Você vale muito mais do que todos eles juntos. 
Isso é verdade. Não há personagem mais ingênuo, puro, esperançoso, batalhador que Jay Gatsby. Meu coração se compadeceu dele no momento em que encheu a casa de Nick de flores e também nesse momento do elogio. 
No final, achei toda aquela gente mesquinha, mas ainda assim, nosso protagonista é odiosamente tonto. Bobão. Pateta. Ou qualquer outro adjetivo infantil que você consiga se lembrar. Tudo o que construiu na vida, todos os seus passos, suas festas, tudo foi pensado para apenas uma mulher. Isso é o que eu chamo de criar expectativas, amigos... 
O que torna, então, esse livro arrebatador? 
Primeiramente, a escrita. Você consegue dançar jazz naquelas festas escandalosas enquanto se delicia na leitura. Outro aspecto importantíssimo que só me dei conta nessa releitura é que Daisy é cultuada pela sua voz, talvez uma das suas características mais fortes. No entanto, sempre quem descreve a sua voz, na maioria das vezes, é o narrador, Nick. 

O som dela me faz feliz. Mas não costumo cantá-la muito pois tenho medo de gastá-la. (Diz Gatsby). 
Ouvi dizer que os sussuros de Daisy serviam para fazer os homens se aproximarem mais. (Diz Nick). 
Era o tipo de voz que os ouvidos acompanhavam minuciosamente, como se cada frase fosse um arranjo de notas que nunca mais seria repetido. (Nick outra vez)

Você é arrebatado pelo luxo e pelo amor, ambos tão exagerados que você não consegue se conter. Eles vêm como uma onda forte ou um tornado, arrancando suas raízes presas ao chão. No final, mais uma vez, você é surpreendido pela face desumana e superficial das pessoas, da maioria delas. E mais uma vez suas esperanças são tiradas de você. Arrebatador. Essa palavra que me faz lembrar a Rejane, ela usou em uma aula em 2013 e eu jamais esqueci. É bom se deparar com algo arrebatador. 
Leiam esse livro! 

sexta-feira, 3 de março de 2017

22 aforismos de aniversário

1. Vai haver um momento na sua vida - vários, eu espero - que você vai se dar conta de que é um momento especial. Aprenda a identificá-lo e aproveite da melhor forma. Segure a mão dele, se for o caso. Não deixe passar. 
2. Uma vez na vida você vai conhecer alguém que irá virar seu mundo de ponta cabeça. Ainda vai se lembrar dele anos depois. 
3. Não adianta ser triste. Sua missão de vida não é essa. Seja feliz, brigue por isso, encontre um lugar na sua alma onde nada vá te abalar. Não digo que é fácil, mas possível. 
4. O certo e errado são coisas subjetivas. Nesses casos, ouça a sua consciência. É o Deus que habita em você. 
5. Ciúme não é legal em nenhuma circunstância. Ciúme é insegurança e, pra quê estar com alguém que você não confia? 
6. Confiança é o seu melhor acessório. Se não tiver, trate de providenciar. 
7. A entrega é fascinante. Transcendental. É tudo que o ser humano mais quer e também, o que ele mais teme. 
8. Sempre soube exatamente que tipo de mulher eu queria ser quando eu crescesse. Eu me encontro com ela quando tenho a sensação de ter feito a escolha certa. Minha criança interna sente orgulho. 
9. Não nasci pra ser "piranhona". Tentei algumas vezes, mas não deu. Gosto de mirar no alvo e atirar; vez eu outra, deixo que atirem em mim. Não é só chegar e entrar, tem que ser bom o suficiente. 
10. Cada dia, cada ano, aprenda a viver com menos, até que você olhará a sua volta e encontrará sentido em tudo. Cada peça de roupa te fará feliz. Você poderá nomeá-las, se quiser. Tudo terá seu valor, nada estará sobrando. 
11. Sou extremamente forte. Hoje posso dizer isso com total convicção. 
12. Os animais, magicamente, transformam suas emoções. 
13. Algumas coisas você só é capaz de enxergar quando passa um tempo sozinho. Voltar aos seus valores, por exemplo, ou passar o dia todo se amando e se namorando no espelho, sem precisar de elogios ou curtidas pra validarem a sua beleza. 
14. Uma vez que você descobre o seu poder e o tem nas mãos, você pode tudo. Onde você o encontra? Dentro de você. Com silêncio e meditação. 
15. Olhe mais nos olhos. Toque mais a pele. Sinta mais. 
16. Acredite se quiser, no mundo dos diferentões, eu sou apenas uma garota comum. 
17. Pra mim, sempre haverá tempo pra fazer os 30 seconds dance party no meio do dia, depois de uma reunião. 
18. Não tenha medo de levar um não. Se você se liberta do medo, então o mundo é seu. Chega nele e diz que tá com saudade! 
19. Se não gosta de ler, ainda não encontrou o seu livro da vida. Se não gosta de vinho, ainda não encontrou seu vinho da vida. 
20. Tenha seu restaurante preferido, suas músicas preferidas, os pontos do seu corpo que mais te excitam e não os associe a ninguém. Quando alcançar isso, vai se sentir plena e autossuficiente. 
21. Mas sempre esteja disposta a conhecer novos restaurantes, novas canções e novas posições sexuais quando estiver com alguém. 
22. O amor começa em você. Quando ele te curar, preencher e transbordar, você será capaz de amar o mundo inteiro. But first, you! 

quarta-feira, 1 de março de 2017

não há nada que você possa fazer se você não for ele

torço pra que dessa vez o eu lírico seja em terceira pessoa e
mais uma vez eu falho.
deve ser porque gosto da minha própria voz quando a ouço
falando com o espelho ou contando uma historia simples
que eu enfeito com arabescos.
eu me apaixonei uma vez pelo homem de voz perfumada do rádio,
a memória olfativa se esvaiu dando lugar a essa fixação por vozes.
então se houver uma forma mais poética de quebrar o coração de alguém...
assim como todo o cheiro daquele beijo.
o perfume daquela voz.

um não mais doce do que os que recebi do moço lindo dos olhos azuis.
um não que seja menor e mais rápido de se dizer,
sem que eu precise ensaiar tanto ou me justificar depois.

hoje no banho, enquanto observava a espuma que saia das minhas mãos,
ou depois, ouvindo blues boy tune,
percebi que eu gosto de estar sozinha.
enumerei minhas qualidades em duas páginas
pra não me esquecer do que realmente importa,
toda vez que leio eu só penso em te dizer não.
não quero sair de todo esse casulo azul-safira que eu criei.
não pros seus braços.
daqui eu não saio, da minha solidão cheirando à canela e anis.
eu não saio por você, não saio de casa por você,
esse poema nem é pra você.
é pra mim. e pensando nele. 
como toda coisa bonita que escrevo últimamente.

sozinha...
passando hidratante labial de cereja com o pincel
demorando no banho cada carinho merecido.
acendo uma vela, apago as luzes da casa.
eu tenho acordado com a pele fresca, presente dos deuses à uma moça 
da minha idade.
eu sou corajosa e poeta, uma poeta corajosa.
esse final cítrico de verão e tudo que eu criei
sozinha
são muito mais do que você poderia suportar.

se houvesse um não mais poético, com certeza eu usaria.
mas como não há, sinto lhe dizer, 
eu sigo melhor aqui
sozinha.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Justo eu que nem gosto do verão

Meu verão tem sido quente. Digo isso em termos térmicos e também em termos emocionais. Ele teria tudo pra ser frio e passional, ou pior, tudo pra ser triste. 
Mas não. Definitivamente não está sendo triste.
Sinto que tudo caminha perfeitamente tal como deveria caminhar. Me sinto tão plena estando sozinha, como se esse fosse o tempo exato e tão merecido entre o primeiro e o segundo tempo de um jogo de futebol. Ou melhor, o tempo de descanso entre uma Copa do mundo e outra. 
Por um lado, isso é assustador. Há quem não espera isso de você e se assusta com seu espírito sereno, mas isso não me importa nem um pouco. O que me assusta é notar o quanto as coisas são efêmeras. Às vezes, alguns sentimentos simplesmente não são transmutados. Eles só acabam mesmo, evaporam, viram uma vaga lembrança bonita, porém neutra. 

Eu estou me sentindo realmente quente nesse verão. Sou uma mulher muito mais iluminada, introspectiva quanto meus gostos artísticos, embora aberta aos gostos artísticos das outras pessoas. Sei exatamente onde piso e me envolvo, sem qualquer culpa em escolher com quem me relaciono - como sempre fiz, do meu jeito criterioso e quase militar. 
Ou é quente, despido, sincrônico, surreal, transcendental e divinal... Ou então não é. 
Pelo jeito não é assim que se dão as relações ultimamente aqui na contemporaneidade. Tudo bem, eu nem ligo. Pode durar três anos ou três semanas, desde eu me sinta em chamas. Sem chamas, então não. 

Janeiro foi quente, intenso, com entrega. Meu bullet journal novo, meu Deus, quanta paixão estou depositando nele! Cada sushi que andei comendo, cada taça de vinho e o dinheiro (antes gasto com cinema, pipoca, pizza aos sábados, repete) sendo usado todinho pra mim. 
Em um único verão eu aprendi a fazer sozinha tudo (ou quase tudo) que eu fazia acompanhada. Preciso registrar aqui que aprendi a mexer em todos os botões do meu carro, desde abrir o porta malas a parear meu celular com o Bluetooth até desligar o limpador de para brisa traseiro! 
Algumas coisas passei a dividir com pessoas diferentes e por enquanto só falta arrumar um parceiro de xadrez. 

Meu verão de noites quentes regadas à àgua (meu novo hábito saudável) e um tanto de aprendizagem, turbulências seguidas de paz, uma porrada de ótimos textos (como a gente escreve bem melhor naquele período das paixonites, ein?). 
Meu verãozinho quente! Eu que nem gosto de calor, justo eu, fui te amar tanto assim. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Narcotic

Fui procurar nos lugares mais inusitados alguma ocorrência sequer
Do que pode ter sido escrito ou calculado sobre
Eu e você.
Os seus verbetes, a minha renda.
Não encontrei muita coisa, só que
N is for nakedness.
No seu inglês sem fundamentos
No meu francês hipotético, misterioso, jamais despido.
Não encontrei em nenhuma parte do meu corpo todo
Os limites da sua indecência.
Se ainda queima,
Não sei.
Nos seus verbetes eu só encontro que
N is for nastiness.
Te compro nas embalagens de café e pimenta.
Hora ou outra, nos chocolates amargos.
Saboreio seus beijos quando digo algo como
Álcool, em que minha lingua bate no céu da boca.
Não sei se foi você quem soprou o restante do fogo e da fumaça
Que agora não são mais do que faíscas
Disparadas quando alguém lê Nietzsche perto de mim.
Só mesmo uma dose de tequila. Só mesmo uma discussão sobre
A cultura oriental.
Só mesmo alguém que discuta comigo a fotografia de Boyhood.
Uma maldade tamanha como sua indecência velada:
N is for narcotize.
Guardo minha meia-calça na bolsa
Junto com meu dicionário de inglês.
Guardo minha nuca sob meu cabelo e nela,
Meu melhor verbete.
Escolhi não te mostrar, você não entenderia.
Minha rosa, você não entenderia.
Guardo a minha renda de você e minha noite de você,
Aqui diz que
N is for nightmare.
N is for nightdress.
N is for narcotic.
Viciada, molhada, deliciosamente maltratada pela sua
...
Cortezia.
Meu doce narcótico.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Meus beijinhos infinitos

Nossa pele tem mais de 500 mil terminações nervosas capazes de nos fazer sentir arrepios. Imagine então eu te beijando com a ponta dos dedos, seu corpo inteiro, sem esquecer um pedacinho, por um dia inteiro. Um domingo, eu e você na rede, fazendo amor e fazendo amor de novo. Se eu beijar os seus lábios com a ponta dos dedos durante um outro dia inteiro, você não sentiria a mesma sensação duas vezes. Elas são infinitas. 

odeio caixa alta

decidi que odeio caixa alta. 
não decidi agora, na verdade, agora foi que eu percebi. assim como eu odeio encontro em cinema ou balada, eu odeio, odeio. não gosto muito de quem não puxe papo ou não me surpreenda com um assunto inusitado, mas, na verdade, acho que não odeio, odeio, é só agora eu não quero ninguém além daquele que eu queria (e agora acho que não quero mais). então... odeio os outros. 
por não serem ele.
então odeio ter de me apresentar novamente.
inclusive, gosto muito de vinho branco, espumante ou não. é minha pequena nova obcessão semanal. veremos quanto tempo isso vai durar. odeio quando digo que tinto não combina com chocolate branco, mas a pessoa insiste em quebrar as regras.
odeio ter de me encaixar. não farei isso, aliás, mas odeio tanto quem opta por milk-shake ou cinema no primeiro encontro quando eu, de fato, quero vinho branco e chocolate (branco). 
odeio esse tanto de adulto agindo como crianças. caralho, se é pra ser adulto, vamos fazer direitinho, esclarecer as coisas e agir por si só. 
se a gente acaba por não obedecer os pais, então obedecemos a quem? quem você obedece agindo assim dessa forma? a cartilha de como ser um macho alfa? aff, isso é tão patético. 
bem, mas pra adiantar as coisas, eu gosto de massagem. não sei, só gosto. acho importante quando conheço alguém que gosta de massagem, livros e rede. e disso tudo junto. 
vou contar pra júlia, espero que, em breve, sobre isso tudo. do meu mundinho planejado em listas e conversas com o universo. as minhas manias e obcessões às quais sou tão fiél.
gosto de massagem, jú, e ele também gosta. ele não é um pamonha que não desenvolve uma conversa com orações subordinadas substantivas. odeio, odeio os monossilábicos. 
ele me deixa caçar, não é tão grudento, mas ele faz massagem, gosto muito da cor do cabelo dele e da voz. 
odeio os que gostam de caixa alta. 
quero iluminar a minha cidade, ver os pontinhos amarelos dos postes e das janelas. beijar dentro do carro quando o sinal estiver vermelho.
não seria muito bom descrever características físicas agora, por pura alto sabotagem. (se fosse assim, descreveria um loirin, inteligente e de voz perfumada). 
odeio tanto, tanto, sentir que estou presa em 2012 diante de tudo isso. em 2012 você ainda estava aqui pra me dizer o que fazer. 

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Agora corra, corra mais rápido que minhas balas

Vênus apareceu no céu aquele dia um pouco antes do pôr do sol.
Você me chamou de minha garota e me levou pra sua casa pra poder ver o céu cor de rosa pela janela. Você não acendeu as luzes até que tudo ficasse totalmente escuro no seu quarto. E suas mãos nas minhas coxas, um pouco mais suaves do que a barba. Mais suave do que havia imaginado, mãos de quem não lava muitos quintais.
Entre os seus lábios macios, pude reparar na cor dos olhos. Eu me concentrei neles um bom tempo pra decifrar a cor misteriosa e não catalogada. Da próxima vez que topar com uma cor assim na vida, vou me lembrar desses olhos. Na verdade, duvido muito que isso se repita. É uma cor dessas que não se repetem.
Esqueci de olhar o resto. Esqueci de perguntar algumas coisas pontuais como, por exemplo, o porta retrato que estava na parede, quem era a tal senhora simpática.
Seu cabelo era macio o suficiente, limpinho e cheiroso. Você acharia engraçado se eu dissesse que isso me decepcionou um pouco. Eu estava sobrepondo a sua imagem com a do ator do meu filme preferido. Lindos olhos azuis, lábios rosas bem gostosos, cabelo sujo. Você se lembra? Devo ter te contado. E então você sorriu pra mim ou algo assim.
Você admirou minhas tatuagens, gostou de descobrir a tatuagem mais recente, depois que tirou meu sutiã. Perguntou algumas coisas sérias e cultas, mas senti ele bem firme em mim quando suspirei no seu ouvido. Você beijou minhas tatuagens. Passou a ponta dos dedos por elas. Gostei da sensação.
É como sentir vinho pelas veias, ao invés de sangue. Uma sensação de estar viva, dizer sim a certas coisas. Não a outras. Desde que tudo seja absolutamente decisão sua. Não me pergunte o porquê das coisas, querido, saiba que quase sempre a resposta é: porque eu quis. 
Você não é nada calmo. Gosto de sentir que com você eu não tenho paz. Gosto de dirigir e ouvir sempre a mesma música e lembrar que paz, sossego, sexo marcado, aquele mesmo apelidinho amoroso de sempre, o mesmo sabor previsível de sorvete, nada disso é certo ao seu lado.
É isso que mexe tanto comigo. E a sua barba passando pela parte interna das minhas coxas. As belas coxas.
Eu já suspirei demais ouvindo palavras soltas demais.
Depois que eu vestir minha roupa amanhã no banco detrás do meu carro, depois do nosso beijo de despedida no seu portão, da sua última passada de mão pelo meu quadril, depois disso, corra! Corra bem rápido pra que tudo não se acalme, não se amanse e não vire uma tediosa paz.
Só deixa mais esse texto e o resto do seu cheiro na minha pele durante o resto da tarde.

Vênus já vai aparecer de novo no céu.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

library (affection)

Na aula de hoje, aprendi o comando library (pwr). Explicando porcamente, esse comando abre o seu banco de dados pwr (que vem de power, ou seja, poder) que está na biblioteca do seu computador (ou do seu programa). Bem, tenho quase certeza de que é isso.
Fazendo um link entre minhas manhãs de quinta-feira e o que tenho aprendido a respeito das relações interpessoais, posso separar duas maneiras de se relacionar: Poder e Afeto.
Vamos começar pelo Poder, assim como foi a aula de hoje.
Relações baseadas em Poder (ou jogos mentais, como queira) estão no campo do marketing, do Ego e até mesmo do Amor Líquido, um termo do Bauman. Quando há um envolvimento assim, as duas pessoas jogam uma com a outra, sem se envolver emocionamente ou até que uma das partes saia magoada.
Pelo que me contaram, é assim que se deve viver hoje em dia. Você conhece um cara, você se encanta, o homem se atrai, vocês saem algumas vezes e, se um dos dois gostar e se vocês tiverem afinidade, então vocês entram na lista de contatinhos. Nessa lista, há uma ordem de preferência.
Primeiro, a pessoa que você gosta muito, finge não gostar tanto assim, mas que você já pesquisou o mapa astral e a genética da família, caso tenha que decidir entre uma prole ou não.
Em segundo, há a pessoa mais linda do universo todo, os olhos são verde água, o cabelo brilha mais do que o cabelo da Ivete Sangalo na caixinha de tintura. Você daria um rim por um beijo dele, mas não é ele a última pessoa que você pensa antes de dormir.
Daí pra frente, apenas pessoas normais e que preenchem os critérios mínimos para se envolverem com você. Sem grandes sentimentos.
Então você passa a basear todos os seus atos e palavras em teorias sólidas da Neurolinguística ou na psicologia comportamental de Skinner.
- Faça ele rodar como uma pomba.
De fato. Eles rodam como pombas. O Poder funciona!

Em contrapartida, há o Afeto, que tratarei assim como seu sentido popular. Carinho.
Há uma frase da Liz Gilbert que eu gosto muito. É assim: "ganhou o meu carinho para todo sempre no dia em que nos conhecemos".
Bem, preciso dizer com todas as letras, onde há Poder, não há Afeto. Um exclui o outro. Necessariamente.
O encantamento ou atração, eles existem, mas é você quem determina se vai ser um jogo ou não. Você pode engolir seus sentimentos e manipular o outro com todas as estratégias de marketing que estão super em voga e sim, isso barra a relação baseada no carinho, afeto e sinceridade.
O Afeto é genuíno, corajoso e libertador. Ele derrete o Ego. Você escolhe ser livre ou escolhe (mediante toda sua liberdade) se prender a alguém.
Atenção, não estou falando em compromisso ou assinar contratos, mas de se mover pelo seu próprio ser, se libertando de qualquer papel que não seja seu, ou transando e gemendo com um manual de instrução ao seu lado. O beijo, o sexo, a conversa, eles podem ter Afeto ou então, Poder. Você que escolhe.
Mas, Marcela, se eu optar pelo Afeto, ele vai achar que sou fraca. - Há uma dica muito simples pra isso. Dignidade. A gente dá na mesma proporção que recebe. E pronto. Seguindo essa regrinha, você se envolve de forma genuína, seguindo seus próprios princípios e sem fazer papel de trouxa.

Agora façam a sinastria como lição de casa e descubra em qual relação você e seu amiguíneo estão:
Poder X Afeto.
Poder X Poder.
Afeto X Afeto.

Nesse Mundo Líquido de Bauman, sortudo é quem tem consciência dos dois lados da moeda pra poder fazer uma escolha e aceitar suas devidas responsabilidades.
Eu ainda estou aprendendo, ando por um lado e pelo outro, estudo PNL, Osho, Arly Cravo e todas as pessoinhas maravilhosas que têm algo a dizer sobre o amor e suas tecnologias. Estou vendo como é ser solteira no meio de uma multidão magoada, desacreditada do amor aos 20 e poucos anos (what?) e com um medo inacreditável de se entregar. Em meio a toda teoria e prática, não vou ditar regras de qual lado é melhor. Mas, pelo título desse texto, acho que vocês podem ter uma ideia das minhas preferências.

O amor derrete o Ego.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Justificado

Uma vez ouvi um escritor dizer que jamais censurava seus textos por medo da repercussão. Os textos, eles nascem de você e correm livres pelo mundo. Você não pode impedir que isso aconteça. 
Não sei se amanhã esse texto aqui ainda existirá. Por isso resolvi escrevê-lo hoje. 
E eu vou justificá-lo porque fica esteticamente mais agradável aos olhos de um perfeccionista. 
Bem, não é nenhuma carta de amor, mas preciso muito dizer que, quando você pronunciou meu nome daquele seu jeito tão peculiar, isso ecoou em mim por três dias. 
O porque, por mais três dias. 
E nos próximos três dias, semanas ou encontros, se sua voz de quem vai despedaçar meu coração já não me fizer mais efeito, então terei esse escrito pra me lembrar. 

Também ouvi dizer que, se um escritor te amar, você se tornará imortal. 
Pena que meu coração é de gelo e o seu, de tilojo. 
Que pena.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Você pode espiar, se quiser

Leia ouvindo essa música bem baixinho. 

Escorregava perfeitamente do teto ao chão, com todos os seus ângulos ajustados e o vidro limpo, sem uma poeirinha sequer. Alto, robusto e ferroz, observei ela entrando no quarto escuro, sem se preocupar em acender as luzes ou trombar na mobília. Fechou a porta, sentiu-se livre naqueles poucos metros quadrados que a separavam de tudo que não era ela.
O quartou encheu-se da sua aura, a cor eu não pude ver, mas devia ser algo entre o azul calmo da sua paz e o púrpura do seu âmago. Havia uma luz amarela do abajur que iluminava os seus contornos e também produzia a sombra do lado oposto. Eu poderia desenhar seus traços com as pontas dos dedos, assim como se contorna os lábios de alguém. O quarto se encheu dela. Do cheiro dela. E do silêncio em que se podia ouvir apenas sua respiração. Ela tirou a chave da porta depois de trancar e escondeu pra que nada escapasse dali. Principalmente para que nada pudesse entrar ali. Pude observar as peças de roupa caindo sobre seus pés. Uma a uma. Os dedos vazios. O coração cheio. Ela percorria a pele levanto seu toque por onde fosse preciso receber carinho e aposto que se você fechar os olhos agora pode sentir o quanto é macia. O quarto cheirava à mulher. Quanto ficamos frente à frente e o ponteiro do relógio denunciou como foi seu dia, ela olhou em seus olhos e sorriu. Balbuciou algumas palavras, uns desejos e uma música que combinava com aquele momento. Teve dois ou três pensamentos, sorriu, voltou a se admirar e guardou na memória aquela sensação de arrepiu que percorreu aquele cenário todo. Eu que pude presenciar e ouvir aquela canção, não diria pra você bater na porta. Espie pela fechadura. Faça silêncio, procure não acordar os vizinhos. Ela está dançando embebecida no seu próprio toque e é lindo de se ver. 

domingo, 8 de janeiro de 2017

Girassol

Fim de tarde, pés no chão. Madeira cheirando à madeira. Lustre anos 20. Caixotes com livros. Frascos de perfumes espalhados. Uma aquarela na parede sustentada por um pedaço de fita. Analógicas. O girassol. Barulho de gente lá fora, a tevê ligada na sala. Camisola de algodão. Cheiro de sabonete de levanda. Lavanda debaixo dos travesseiros. Janela entreaberta. Meia luz. Uma xícara vazia com vestígios de café. Batom jogado. No post-it do espelho, uma carta de amor. Cortinas brancas e translúcidas. Abrem e fecham... Pouco barulho de trânsito. Um gato preguiçoso aos pés da cama. Um cacto. Capitoné. Violão no canto. Violino na perede. Uma pequena vitrola. Vai ver à janela, estrela d'alva. Vento no rosto. É primavera. Cheiro de bossa nova. Fim de tarde. Meia luz. Pés no chão.