quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

library (affection)

Na aula de hoje, aprendi o comando library (pwr). Explicando porcamente, esse comando abre o seu banco de dados pwr (que vem de power, ou seja, poder) que está na biblioteca do seu computador (ou do seu programa). Bem, tenho quase certeza de que é isso.
Fazendo um link entre minhas manhãs de quinta-feira e o que tenho aprendido a respeito das relações interpessoais, posso separar duas maneiras de se relacionar: Poder e Afeto.
Vamos começar pelo Poder, assim como foi a aula de hoje.
Relações baseadas em Poder (ou jogos mentais, como queira) estão no campo do marketing, do Ego e até mesmo do Amor Líquido, um termo do Bauman. Quando há um envolvimento assim, as duas pessoas jogam uma com a outra, sem se envolver emocionamente ou até que uma das partes saia magoada.
Pelo que me contaram, é assim que se deve viver hoje em dia. Você conhece um cara, você se encanta, o homem se atrai, vocês saem algumas vezes e, se um dos dois gostar e se vocês tiverem afinidade, então vocês entram na lista de contatinhos. Nessa lista, há uma ordem de preferência.
Primeiro, a pessoa que você gosta muito, finge não gostar tanto assim, mas que você já pesquisou o mapa astral e a genética da família, caso tenha que decidir entre uma prole ou não.
Em segundo, há a pessoa mais linda do universo todo, os olhos são verde água, o cabelo brilha mais do que o cabelo da Ivete Sangalo na caixinha de tintura. Você daria um rim por um beijo dele, mas não é ele a última pessoa que você pensa antes de dormir.
Daí pra frente, apenas pessoas normais e que preenchem os critérios mínimos para se envolverem com você. Sem grandes sentimentos.
Então você passa a basear todos os seus atos e palavras em teorias sólidas da Neurolinguística ou na psicologia comportamental de Skinner.
- Faça ele rodar como uma pomba.
De fato. Eles rodam como pombas. O Poder funciona!

Em contrapartida, há o Afeto, que tratarei assim como seu sentido popular. Carinho.
Há uma frase da Liz Gilbert que eu gosto muito. É assim: "ganhou o meu carinho para todo sempre no dia em que nos conhecemos".
Bem, preciso dizer com todas as letras, onde há Poder, não há Afeto. Um exclui o outro. Necessariamente.
O encantamento ou atração, eles existem, mas é você quem determina se vai ser um jogo ou não. Você pode engolir seus sentimentos e manipular o outro com todas as estratégias de marketing que estão super em voga e sim, isso barra a relação baseada no carinho, afeto e sinceridade.
O Afeto é genuíno, corajoso e libertador. Ele derrete o Ego. Você escolhe ser livre ou escolhe (mediante toda sua liberdade) se prender a alguém.
Atenção, não estou falando em compromisso ou assinar contratos, mas de se mover pelo seu próprio ser, se libertando de qualquer papel que não seja seu, ou transando e gemendo com um manual de instrução ao seu lado. O beijo, o sexo, a conversa, eles podem ter Afeto ou então, Poder. Você que escolhe.
Mas, Marcela, se eu optar pelo Afeto, ele vai achar que sou fraca. - Há uma dica muito simples pra isso. Dignidade. A gente dá na mesma proporção que recebe. E pronto. Seguindo essa regrinha, você se envolve de forma genuína, seguindo seus próprios princípios e sem fazer papel de trouxa.

Agora façam a sinastria como lição de casa e descubra em qual relação você e seu amiguíneo estão:
Poder X Afeto.
Poder X Poder.
Afeto X Afeto.

Nesse Mundo Líquido de Bauman, sortudo é quem tem consciência dos dois lados da moeda pra poder fazer uma escolha e aceitar suas devidas responsabilidades.
Eu ainda estou aprendendo, ando por um lado e pelo outro, estudo PNL, Osho, Arly Cravo e todas as pessoinhas maravilhosas que têm algo a dizer sobre o amor e suas tecnologias. Estou vendo como é ser solteira no meio de uma multidão magoada, desacreditada do amor aos 20 e poucos anos (what?) e com um medo inacreditável de se entregar. Em meio a toda teoria e prática, não vou ditar regras de qual lado é melhor. Mas, pelo título desse texto, acho que vocês podem ter uma ideia das minhas preferências.

O amor derrete o Ego.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Justificado

Uma vez ouvi um escritor dizer que jamais censurava seus textos por medo da repercussão. Os textos, eles nascem de você e correm livres pelo mundo. Você não pode impedir que isso aconteça. 
Não sei se amanhã esse texto aqui ainda existirá. Por isso resolvi escrevê-lo hoje. 
E eu vou justificá-lo porque fica esteticamente mais agradável aos olhos de um perfeccionista. 
Bem, não é nenhuma carta de amor, mas preciso muito dizer que, quando você pronunciou meu nome daquele seu jeito tão peculiar, isso ecoou em mim por três dias. 
O porque, por mais três dias. 
E nos próximos três dias, semanas ou encontros, se sua voz de quem vai despedaçar meu coração já não me fizer mais efeito, então terei esse escrito pra me lembrar. 

Também ouvi dizer que, se um escritor te amar, você se tornará imortal. 
Pena que meu coração é de gelo e o seu, de tilojo. 
Que pena.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Você pode espiar, se quiser

Leia ouvindo essa música bem baixinho. 

Escorregava perfeitamente do teto ao chão, com todos os seus ângulos ajustados e o vidro limpo, sem uma poeirinha sequer. Alto, robusto e ferroz, observei ela entrando no quarto escuro, sem se preocupar em acender as luzes ou trombar na mobília. Fechou a porta, sentiu-se livre naqueles poucos metros quadrados que a separavam de tudo que não era ela.
O quartou encheu-se da sua aura, a cor eu não pude ver, mas devia ser algo entre o azul calmo da sua paz e o púrpura do seu âmago. Havia uma luz amarela do abajur que iluminava os seus contornos e também produzia a sombra do lado oposto. Eu poderia desenhar seus traços com as pontas dos dedos, assim como se contorna os lábios de alguém. O quarto se encheu dela. Do cheiro dela. E do silêncio em que se podia ouvir apenas sua respiração. Ela tirou a chave da porta depois de trancar e escondeu pra que nada escapasse dali. Principalmente para que nada pudesse entrar ali. Pude observar as peças de roupa caindo sobre seus pés. Uma a uma. Os dedos vazios. O coração cheio. Ela percorria a pele levanto seu toque por onde fosse preciso receber carinho e aposto que se você fechar os olhos agora pode sentir o quanto é macia. O quarto cheirava à mulher. Quanto ficamos frente à frente e o ponteiro do relógio denunciou como foi seu dia, ela olhou em seus olhos e sorriu. Balbuciou algumas palavras, uns desejos e uma música que combinava com aquele momento. Teve dois ou três pensamentos, sorriu, voltou a se admirar e guardou na memória aquela sensação de arrepiu que percorreu aquele cenário todo. Eu que pude presenciar e ouvir aquela canção, não diria pra você bater na porta. Espie pela fechadura. Faça silêncio, procure não acordar os vizinhos. Ela está dançando embebecida no seu próprio toque e é lindo de se ver. 

domingo, 8 de janeiro de 2017

Girassol

Fim de tarde, pés no chão. Madeira cheirando à madeira. Lustre anos 20. Caixotes com livros. Frascos de perfumes espalhados. Uma aquarela na parede sustentada por um pedaço de fita. Analógicas. O girassol. Barulho de gente lá fora, a tevê ligada na sala. Camisola de algodão. Cheiro de sabonete de levanda. Lavanda debaixo dos travesseiros. Janela entreaberta. Meia luz. Uma xícara vazia com vestígios de café. Batom jogado. No post-it do espelho, uma carta de amor. Cortinas brancas e translúcidas. Abrem e fecham... Pouco barulho de trânsito. Um gato preguiçoso aos pés da cama. Um cacto. Capitoné. Violão no canto. Violino na perede. Uma pequena vitrola. Vai ver à janela, estrela d'alva. Vento no rosto. É primavera. Cheiro de bossa nova. Fim de tarde. Meia luz. Pés no chão.