sábado, 24 de junho de 2017

Vastidão

Pobre vastidão, se esforça pra caber nos contornos que desenhei, trazendo algo mais de sentido, ou não. Contigo há mais formas abstratas, cores e sensações das quais não poderia decodificar senão pela arte ou a bebida. E ando esse tempo buscando um novo narrador pra contar essas histórias que eu escrevo. Pra começar, a sua vastidão rebelde não se encaixa nesses moldes que você teima em inventar. Ela atravessa as paredes, os outros corpos cinzas, as máscaras e manuais de instruções. Ela tenta caber na sua mente também, mas a mente é limitada demais pra todas as explicações. 
Eu, ao contrário, aprendi a domar a minha alma indomável e é minha mente quem precisa de ordem. O certo está, portanto, a três passos da desconstrução. E meu coração anansei por algo que me faça temer essa ideia que eu inventei de que de amor eu não morro. 
A gente está vivo agora. Amanhã eu recolho os meus pedaços. 

domingo, 11 de junho de 2017

Estrago

Gosto das palavras assim como gosto de café em dias nublados e de me preparar banhos mornos com cheirinho cítrico. 
- Eu te desejo um romance quente, intenso, fora de rotina, para que você não enjoe rapidamente, podendo beijá-lo à noite, escondido, atrás de uma parede ou debaixo das árvores. Que ele tenha aquela expressão no rosto, aquela de quem quer te desembrulhar lentamente com os dentes, e que ele tenha as mãos firmes, saiba falar palavras bonitas. 
Doces palavras e um café forte. Eu te digo, tome cuidado, pense antes, não saia falando a primeira coisa que lhe ocorre. 
Veja agora, meus versos vivos e ressoantes. Ensurdecedores. Quentes e flamejantes, caminhar por entre as estradas estreitas e escuras de uma paixão descabida.
Se bem que, há de concordar comigo, a incerteza é bem mais atraente. Nos rebelamos contra a nossa própria ideia de perfeição, a nossa casa azul com janelas e cercas brancas. 
Você me arruma um problema dessas dimensões. Não sabe o estrago que faz. 
No mesmo passo, andando a esmo e sem procurar resolver. Tomo cuidado com o som que as minhas palavras fazem, principalmente se sussuradas. Certeiras e bem pensadas, acertam em cheio bem na boca do estômago e mais pra baixo. De baixo pra cima, de baixo pra cima. Eu digo, então não chegue muito perto dos meus olhos. Eu professo ao vento, por escrito, suplico à lua e de todas as formas eu sou ouvida. Cuidado! Cuidado com o que diz. Nessa história toda não sou a que assopra. Sou o diabo em pessoa.
E isso me causa o maior estrago.