quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

transitório

eu sou minha.
minha.
mesmo sabendo que meu corpo é transitório, minhas joias, meus romances e as cartas que eu enviei. sou minha, apesar de ter aprendido a soltar tudo, entender que amanhã posso não estar aqui, posso não ter os membros que um dia eu pensei serem meus também. não sou dona, mas sim, responsável pelas minhas palavras, ações o que eu entendo das suas palavras e das suas ações. sou responsável por me amar o quanto eu desejo que o outro me ame. e ainda mais. porque dentro de um ônibus por sete horas, ou catorze - como ocorreu uma vez - estarei contente em ser minha própria companheira. quando doer vai doer em mim e eu vou me curar. vou sentir tudo, abraçar tudo o que vier. se der medo, vou buscar apoio dentro do meu coração, que venho treinando há 23 anos pra não quebrar tão fácil. então antes de me chamar de "minha" uma outra vez, procure amor dentro de si mesmo. não sou sua metade, a parte que faltava em você. não nasci com o propósito de secar suas lágrimas e meu amor não permanecerá onde a posse estiver. serei sua somente e apenas porque sou inteiramente minha e não espero nada menos de você. somos completos. e temos um ao outro. confiamos na transitoriedade.

não possua nada. seja!

domingo, 11 de fevereiro de 2018

cemitério de elefantes

franklyn, my dear.
depois dos vinte e quase um diploma
não há mais espaço pra inspiração.

acabo percebendo algo recorrente,
senão pra mim, pra muitos de mim,
que os escritos
aqueles que por vezes carregam um rima
são onde descansam as almas dos que
já foram amados.

mórbido.
poético.
um tanto intelectual, visto o título deste aqui.

aqui jaz um gemido prezo na garganta.
e neste aqui, meia dúzia de lágrimas
que jamais chegaram a molhar qualquer travesseiro.

hoje, por exemplo, um pouco mais perto da minha morte
e quase um diploma
passei creme anti idade pela primeira vez.
o que meu avô iria dizer?
bem, sigo dizendo aos jovens,
aos que ainda escrevem ou amam com usando a inspiração:
nunca, jamais!, alguém morreu de amor.

só os idiotas.

liberdade, um título clichê

isso vai além de sentir que fiz uma boa escolha perante a vida, me faz até ter de novo aquela vontade de ler poemas e escrever. chega a ser mais excitante do que falar de amor, a forma como ele transborda. a liberdade, esta sim me transborda mais, me intriga. já o amor, ele está ali no alto de um pedestal, daqueles que a gente precisa passar uma vida inteira esticando os braços, pulando, suando até alcançar. por vezes, até duvidamos se era real ou miragem. incrível como o amor se manifesta no fato de eu lembrar do outro o tanto quanto lembro de mim mesma. filha única, vocês me entendem. no entanto, deixe-me explicar que a liberdade é algo como a respiração. experimente prender a respiração por quinze, vinte segundos, ou, se quiser se aventurar, prenda até começar a ficar roxo, igual a Sandra Bullock em Gravidade. e depois respire novamente, livremente. ah! o prazer associado a liberdade é tal qual o prazer de respirar. simples, vital. visceral. está no meu DNA.
é assustador quando parece que perdi, sequer por quinze ou vinte segundos, a minha capacidade consciente em tomar decisões de acordo meu próprio modo de ver a vida, defender minhas certezas, egoicas ou não, mas dar a palavra final.
onde quer que nos amarrem, se você levar a linha mais sádica e masoquista, beleza, nos pulsos, nas ideologias baseadas no medo, naquelas falta de conhecimento - uma puta prisão - ou até aquilo que uns chamam de amor. onde quer que nos amarrem até nos deixarem roxos e alucinando, por cinco segundos os dois meses, não há nada mais biologicamente agradável do que respirar de novo.
ver é sempre melhor. em 4k, HDR, full HD e a porra toda.