terça-feira, 18 de julho de 2017

Sunshine

Dessas coisas bobas, antigas, bregas que fazem a gente lembrar com calorzinho no peito. Mesa pra dois. E sempre fazemos o mesmo ritual de colocá-las lado a lado, quebrando a regra primordial dos sistemas de restaurantes. Em qualquer lugar do mundo, faremos deles o nosso lugar. 
Meu bem, essas coisas acontecem. Por exemplo, eu acabar escrevendo sobre você.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Estou intelectualmente apaixonada por você

Era noite, mas não tão tarde. Fechou o livro e despertou. Todas as abas, janelas, portas, vidraças e cicatrizes com o sangue a ser jorrado, sem estancar, a luz e o insight. E mais uma vez ela pronunciou essas palavras que lhe cabiam tão bem nas esperanças de dias ensolarados, "agora eu mudei de vida". No segundo seguinte, o chão se abriu e o reflexo no espelho já não lhe parecia seu. Malditos os livros, que abrem as cabeças e colocam essas ideias malucas. Ela amou um pouco menos aquele aquele cara que costumava trocar beijos ardentes às vezes quando se encontravam por acaso. E a melhor amiga. Juntou os pedaços de consciência: infelizmente, eles não cabem mais nas minhas ideias e por isso acabam de me perder um pouco. Tramas de admiração, 80 fios, alguns são de ouro. A gente já não pode conviver mais com quem continua achando que poliamor dá inferno. E tem também aquele mito de encontrar alguém na vida que já tenha lido Ulisses. Confesso, eu não li Ulisses. Mas Poe, Dostoiévski, Kafka, sim! Sei que o poliamor não dá inferno, mas quem sabe, essa minha mania de amar menos alguém que não leu Kafka. Terminou o livro e o resumo que fez dele. Quis gritar ao primeiro que passasse na rua, "olha, eu te passo a minha versão digital por e-mail e também o meu resumo, por favor, por favor, leiam e tenham sobre o que conversar comigo!" 
Meu pobre coração, besteira julgá-lo.
Ela sentiu um pouco mais de culpa pelos próximos quarenta minutos. Logo superou. 
A admiração intelectual. Esse tesão.

Segunda-feira

Dessa vez, não cheguei a amá-lo, a dedicar meus versos e minhas serenatas, as noites de sonhos febris não foram pra ele. Embora eu segure firme toda grama de responsabilidade por esse - quase - romance, as minhas noites, os vinhos que tomei sozinha e com os outros. Mesmo que dele fosse a camada mais superficial de toda a minha pele, mesmo assim, sinto pela partida, embora pensasse que aqui eu jamais sentiria coisa qualquer. Não foi ele quem partiu. Fui eu. As fotos eu apaguei chorando no banheiro frio, o carinho que doi quando ele despeja todo o zelo, cuidado, paciência e afeto sobre as minhas feridas ainda abertas. Já fui tão amada... E apesar dele não ter me dedicado essas coisas que meus amantes artistas e criativos me dedicaram, bem, se não fosse algum tipo de sentimento genuíno, não teria chegado tão longe. Eu parti, então, porque cada gesto dele me fazia sentir medo. Ser vunerável nos braços de alguém, entregar-lhe todas as suas fraquezas, fortalecer e subir cada vez mais alto, pra depois terminar. Um dia me disseram que eu gosto dos relacionamentos impossíveis, justamente porque não há nenhuma chance disso acontecer. E eu não gostava dele, justamente por ser possível, real, estar acontecendo bem aqui, debaixo do meu nariz. 
Ele ainda não sabe que eu parti. Talvez segunda, quando ele acordar. 
Vai pensar justamente que eu não sentia nada.