domingo, 27 de julho de 2014

Chérie

São três tecidos distintos que me protegem do frio e de você. Me esconder atrás do meu eu lírico é mais seguro do que te chamar pra tomar um vinho e te dizer que eu entendo o que está passando. Devo ter tido uma melhor amiga na vida passada, ou talvez eu tivesse passado pelo mesmo óvulo que você, vai saber. A vida passa enquanto a gente conversa por poemas, há 73 músicas de distância ou mais, esperando os tempos de frio passar, esperando alguém que saiba decodificar nossas rimas, além de nós mesmas. Um dia nem tudo vai ser o que parece, chérie.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sussuros

Parece que fui trancada do lado de fora. Perdi as chaves, esqueci a senha. Observo tudo de longe, me aproximo, refaço meus planos e mudo a rotina, nada de encontrar o caminho. Talvez eu devesse diminuir o comprimento do cabelo, apressar o passo, ficar ruiva. Talvez eu devesse aprender a ignorar o passado ou diminuir a saia. Eu a observo lá dentro. Eu até que estava precisando de uma garrafa de vinho esta noite e ter aquele papo-cabeça sobre as melhores frases do Chico para se tatuar. Eu até que estava precisando de alguém que me ouvisse falar como eu gos[t]o. Ela me disse qual táxi tomar, mas ele nunca passou por aqui.
Já é tarde da noite e eu espiando pela fechadura. Posso até ouvir um blues ao fundo e sentir o cheiro da liberdade. Então, sussurro baixinho...
... me deixei entrar.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O carteiro

Queria ligar pro carteiro e inventar uma desculpa qualquer, que ele tenha esquecido de trazer a encomenda, qualquer coisa assim. Mas ele não gosta de falar ao telefone comigo, porque eu falo demais durante as quatro horas que eu fico na linha e mesmo que eu diga que dessa vez serão só cinco minutos ele não se dispõe a acreditar. Aí eu fico aqui, fazendo as unhas e sofrendo calada.
Enquanto isso ele disfarça e desconversa e pensa que ta me enrolando e que eu esqueci que to morrendo de saudade de ouvir a voz dele. E diz que vai jogar e que vai assistir filme, nem sequer me dá uma desculpa, nem agenda a próxima ligação. 
E se eu fico emburrada, chorandinha, mal humorada, carente, ele começa a tocar violino e poe a culpa toda em mim. E diz que não é pra tanto, que vamos nos ver amanhã, que nos vimos semana passada. Mas veja bem, já são dois longos e torturantes dias sem ouvir a voz de carteiro dele. Eu fico como?
Deixa ele comigo, amanhã bem capaz que eu solto os cachorros pra cima dele. 
Solto não, brincadeira.
É que quando ele chega todo tímido pra entregar minhas correspondências eu me desfaço em suspiros. Meu amante amarelo e azul que não tem culpa de ser homem e odiar falar ao telefone por horas. E aí eu perdoo e convido ele pra entrar e tomar um cházinho. Falo no ouvido dele que ele tem me matado de amor. Ai ai... 

Mas como eu ia dizendo, não sei porque ele não me deixa ligar, eu nem falo tanto assim.