quarta-feira, 4 de setembro de 2019

minhas ex legendas do instagram

Dharma, pelo budismo, significa "aquilo que mantém elevado", ou também, "lei cósmica". Não é um conceito fácil de entender. Numa dessas conversas que a gente vai longe, enfim, compreendi através de um exemplo prático. Ele é meu Dharma. Incrível como ele aparece no momento em que tudo está desmoronando. Eu sou meu próprio chão, mas ele é aquela lua cheia bonita no céu. Quando ele vem, não sinto como se já o conhecesse, ou como se pudéssemos conversar através do silêncio ou dos nossos olhares. Não. Ele é novidade, é um presente sendo aberto com cheirinho de novo, é minha limonada fresca. Lei cósmica, eu tinha que viver pra conhecê-lo. E sentir aquele frio na barriga toda vez. Toda santa vez.

sinto um pequeno e estranho amor pelas minhas tatuagens, como se elas fossem mini filhos, gerados a partir de uma maturidade poética inexplicável, dessas que a gente não tem muitas vezes na vida. essa é minha primogênita e a foto foi um ato desesperado - "peloamordedeus, eu preciso vê-la todos os dias"! de alguém que rabisca a parte do corpo que jamais consegue ver. amor pequenininho, preso (ou liberto) no espaço entre dois colchetes, representando a fase da minha vida que deveria ser a mais louca. que bom que eu não transformei esse amor em artigos, monografias. que bom que não tirei desse amor todas as partículas de oxigênio que eles poderiam me dar, até cair aos meus pés, brancos e sem pulso. que bom que foi divertido, um amor que uniu pessoas, um amor que me fez conhecer restaurantes novos e gastar um tanto de dinheiro em xérox e professores particulares. vai estar tatuado pra me lembrar das primeiras vezes em que a gente faz coisas loucas por amor. tipo se tatuar. 
desses cinco (ou seis?) anos, levo boas memórias, um bocado de amigos, um bebê Dante, a fluência em IPA. e é bom lembrar - quando você descobrir que essa não é a melhor fase da sua vida - que isso é só o começo. 

tem uma experiência que eu diria necessária pra vida de qualquer ser humano: a paixão idealizada. ela consegue te elevar aos sete céus com mesma feroz intensidade machadiana que te derruba das nuvens, em cruel queda livre. melhor que do terceiro andar, certo? como diz Clarice nesse conto (Obsessão), ela pode falar melhor sobre Daniel agora que já viveu. não se trata de se apaixonar efetivamente por ele, mediante suas qualidades com números ou lábia. na minha visão de ex apaixonada, nunca se trata do Daniel, pois não é mais do que um pico elevadíssimo dos hormônios do amor. nos vinte primeiros minutos, se você for muito bom, pode até fazer qualquer Daniel se apaixonar de volta, suscitando os tais hormônios. você se apaixona da mesma maneira pelo Justin Timberlake, lá do outro lado do mundo. é quase amor próprio, quase uma masturbação do ego, uma necessidade de morrer de amores ou de preencher o tempo em que você devia estar escrevendo seu TCC. não, meu bem, quase nunca se trata do amor da sua vida. e quando você descobre isso? pode durar um ano, se o cara for muuuuuuito bom em matemática. mas você vai saber uma hora. "agora que já vivi o meu caso, posso rememorá-lo com mais serenidade. Não tentarei fazer-me perdoar. Tentarei não acusar. Aconteceu simplesmente". ego, superego, bioquímica, e não amor. passa. passa. até o furacão Clarice trazer a tona. aconteceu simplesmente.

Era 2016. Foi o primeiro dia que eu me senti, de fato, uma mulher adulta, fazendo coisas de adultos. Era uma festa de aniversário conceitual, na casa de uma grande amiga, em que tinha sangria, um frigobar com cerveja, petiscos e, pasmem, velas! Era um aniversário à luz de velas, como num filme do Xavier Dolan. Eu fui sozinha, fiz amizade com uma garota da filosofia, encontrei minha tatuadora por lá. E não me senti desconectada como agora eu me sinto indo em aniversários de debutantes em pleno 2019, já não dançando mais enquanto tento descobrir o nome do DJ. Mudar de fases assusta! Em 2012 eu brincava com os limites da liberdade e descobria como eram as luzes da cidade à noite. Em 2017 eu escrevi todos os poemas que pude e ainda tinha tempo pra ensinar minhas amigas a aproveitar os bons tempos da faculdade. Eu acordava de madrugada só pra ler e escrever meus sentimentos. Em 2019 sou uma adulta desconectada, uma tia ansiosa pra passear pela piscina de bolinhas do shopping, que sonha com a carreira acadêmica do Ross ou da Ella (de Lucifer). Bem, a vida adulta, pra mim, se resume em: não tentar se encaixar nas modices dos jovens - pega mal, acreditem; cultivar o hábito de beber vinho; continuar indo em festas de adultos, à luz de velas, principalmente se o adulto em questão tiver um piano e quadros na parede. Também, enquanto adulta, não uso mais aliança; não costumo mais compartilhar meus romances pra geral; faço terapia e pretendo jamais deixar de fazer; leio os livros que me encantam, sem aquela correria pra cumprir metas literárias loucas por mês. Eu também já vou em bares imundos e detestáveis só pra aproveitar um bom papo com outros adultos interessantes. Eu cozinho legumes. E é assim que eu vivo, no momento. Constantemente tentando superar o fato de que as coisas mudam e de que eu simplesmente não sou mais aquela que escreve poemas de amor pra embuste. Estóica, eu diria. E transcendental.

Essa é minha nova vida; vida adulta. É normal que eu me sinta assustada com ela, já que nunca fui adulta antes, não me ensinaram como fazer, só fui catapultada pra cá. As minhas roupas mudaram; estou em busca de joias clássicas das quais eu não precise me preocupar em trocar todo santo dia, variar. É diferente da adolescência, já advirto vocês! Não temos mais tempo pra perder com pessoas superficiais e poucas coisas importam tanto quando gastar seu salário com viagens e sushi. 
Tudo mudou e está sendo uma delícia! É libertador saber que não preciso ficar antenada nas novidades dos jovens, sendo que tudo o que eu realmente quero é uma tarde de folga pra ler Moby Dick, um trabalho do qual eu não odeie e que pague minhas viagens anuais com meu sobrinho, pra fotografá-lo. Incansavelmente. 
Um amor pra discutir política e me levar pros happy hours da firma dele.
Congressos internacionais. 
Cadernos digitais sustentáveis.
Promoções no kindle unlimited. 
Dermatologista. 
Livrarias com longas escadarias de madeira.
Cursos online. 
Parentes que não façam perguntas pessoais. 
Novo álbum do Arctic Monkeys, porque certas coisas nunca mudam.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

suba e esvazie

Eu não acho que esteja errada, algo me diz que não. Por mais assustador que possa parecer, faz parte de algo necessário, algumas escadas e uns muros pra escalar. Não chegamos nunca ao topo e isso é uma das coisas mais perfeitas criadas pela vida; uma eterna admiração do céu e das nuvens, porque quando chega lá em cima, tem que descer.
E sempre subimos. Ralamos os joelhos e o queixo também. Olhamos quem ficou pra traz, nos despimos todo dia daquilo que já não serve, que pesa. Por favor, por favor não me diga que Zaratustra estava errado, porque estou confiando nele.
Eu já não escrevo mais sobre o amor que conhecia antes - vamos chamá-lo de paixão. Os poemas me preenchiam e eram preenchidos por mim, por cada suspiro e suor. O sonho que não acontece simplesmente vira poesia; vira doença também, e de poesia esse mundo tá cheio.
Agora eu falo de mim, debaixo do céu ainda cor-de-rosa que eu costumava rodar com meus panos finos e esvoaçantes. Devo te dizer que depois que a gente cresce, param de nos achar bonitinhos, justamente porque - se tiver sorte - você estará lendo Nietzche e questionando as frases pré montadas que todo mundo diz sem nem pensar. E até mesmo o amor.
Quem é corajoso o suficiente pra questionar o amor? Eles não irão gostar de você.
Eles esperam sempre que você seja ingênuo o suficiente pra fazer rodar o sistema. 
Eles querem companhia. 

é assim que a humanidade evolui

foi sempre assim, eu e eu.
não por egoísmo, acredito que seja maturidade.
não sei,
os mais velhos acham que maturidade é
você sorrir pro vizinho que não gosta,
fingir que não ouviu seu tiozão falando uma frase
machista no almoço de domingo.
talvez seja, não é?
no entanto,
já faz um tempo que escolhi a mim mesma
como parceira,
meu Robbin.
e ela sempre aperta minha mão
naquele momento terrível que temos que escolher
ser eu mesma ou ser comum.
não iria imaginar, nos meus piores
pesadelos
um mundo tão apegado às tradições.
são ultrapassadas e eu só quero ir pra frente
mesmo que doa um pouquinho agora
na quebra de paradigmas
eu e eu somos a revolução.
porque é muita ingenuidade
contar que os outros estejam ali amanhã
como peça fundamental dos seus sonhos.
talvez na quinquagésima vez
quem sabe um dia
eles aprendam que eu sobrevivi
às imposições e às tradições
que no século XXI a medicina está bem avançada.
deve ter sido assim que muitos alcançaram
grandes feitos
dependendo
- somente -
de si mesmos.