é extremamente desafiador esperar o outro, esperar as decisões do outro, esperar atitudes do outro. talvez essa dificuldade venha do nosso orgulho, aquele que quer sempre ter a palavra final. por outro lado, agora de uma maneira mais amorosa, esse desafio vem porque - em algum lugar no nosso âmago - a gente lembra que não deve criar expectativas. esperar, portanto, é criar expectativas que podem nos frustrar, na maioria dos casos. esperar também é dar o poder ao outro pra ele decida sobre o nosso destino. não entendo qual seria a decisão mais sábia a tomar aqui.
bem, podemos então decidir pegar a responsabilidade pela vida em nossas mãos; ir ou ficar, mas embasados nos próprios argumentos, sensações, percepções, intuições. talvez aí a vida possa nos surpreender. e aquela expectativa, então, que nunca chegamos a elaborar, possa ser a porta de entrada pra uma... surpresa! é melhor algo inesperado vindo do outro? melhor até mesmo do que as nossas expectativas? eu não sei a resposta, mas acho que pode ser "sim".
ainda teimo em esperar que, ao abrir um livro, Clarice Lispector ou Liz Gilbert irão solucionar os meus problemas magicamente dizendo meia dúzia de palavras que façam sentido, me libertando do fardo de ter que decidir.
escolhi ser uma mulher forte, com uma boa ajuda do meu mapa astral. é nesses momentos em que gostaria de abrir mão dessa força, me inclinar sobre o complexo de Cinderela, esperar pacientemente até alguém trazer meu sapato perdido. temos que pagar tanto o preço por sermos vítimas, quanto por sermos o nosso próprio resgate.
volto a citar Clarice: "é uma alegria difícil, mas uma alegria".
ainda não fiquei sabendo que a Verdade desceu à Terra e sussurrou ao meus ouvidos as respostas pra tudo. hoje em dia, trabalhamos com bom senso, com a transcendência da moral e com a promessa pessoal de ouvir a intuição. a cada minuto, uma verdade diferente encontrada na busca desassossegada por não sossegar, aquietar o facho e lavar o chão do banheiro com lágrimas.
não trago conclusão alguma a mim mesma além do tesão por questionar. acho válido chorar, ler poesia, beber uma taça de vinho (sem dirigir, ok?), comer chocolate, desabafar, escrever, o que for.
mas curtir a fossa e liberar. não prender a vida. não achar que precisamos resolver tudo hoje.
hoje, hoje eu vou deitar na cama e me amar, como se eu fosse uma garotinha frágil. amanhã sim, a gente pega a vida nas mãos e resolve. e era só isso que eu queria dizer mesmo.