quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

janeiro

é janeiro e está sendo um mês terrível, assim como eu tinha planejado. é um mês de quebra de expectativas e renovação, uma serpente trocando de pele, uma lagarta se transformando em borboleta. cada dia é uma preparação inútil para ser mais estoica e menos estressada, aprender a lidar com uma vida inteira de docilidade que me foi imposta, ao mesmo tempo que me liberto disso.

estou lendo um livro novo que se chama "indomável" e o prólogo diz respeito a um guepardo que nasceu em cativeiro e foi domesticado pra se comportar como um labrador. o pobre animal passa a vida correndo atrás de um coelho de pelúcia, em frente a uma plateia, pra depois ganhar um bife ao final do show. 

me sinto da mesma forma; um guepardo tendo que se comportar como um labrador. no meu caso, não posso falar e, quando falo, sou "grossa", "ingrata", "mal educada"; tenho que pedir desculpas mesmo estando certa, tenho que perdoar... perdoar de novo, passar por cima da minha palavra.

eu disse pra psicóloga que sentia culpa por não estar feliz nesse mês tão importante pra mim, por não estar me comportando de modo reluzente, como era de se esperar e de não estar grata. mas nunca foi fácil assim como parece. nunca foi fácil ter que me esconder neste blog por tantos anos pra poder ser quem realmente eu sou. pra poder sentir e ter meus sentimentos respeitados. nunca foi fácil e não é agora que isso vai mudar. é preciso se afastar daquilo que te adoece, primeiro.

janeiro está sendo terrível e não estou grata nem feliz. no verdadeiro caos, uma coisa acontece: minha mente é um barco em meio a uma das maiores tempestades em alto mar de toda minha vida. não se vê esperança nem arco-íris. mas lá no final do horizonte, vejo um farol atravessando as nuvens. não sei se vou encontrá-lo em fevereiro, em março... mas é pra lá que eu sigo. meu foco. meus objetivos. a palavra final que eu prometi para mim mesma. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Arctic Fernanda

Afinal, o que é tudo isso aqui senão um arsenal da sua cara com filtros e harmonizações? Da sua família legal, da sua vida incrível, da sua vida romântica perfeita.
Para mim, isso é um lugar de que ouço falar quando alguém perto de mim vem contando quem está namorando com quem, quem traiu quem e passou a namorar a tal da menina que não presta, e a ex engordou, claro.  
É só sobre isso mesmo de que ouço falar. Ninguém sai daqui, que eu me lembre, melhor do que entrou. Por que haveria de ser? Veja como estou agora, reclamando os percalços da vida, e você não vai sair melhor depois de ler essa minha reclamação.
Certa vez, me ocorreu uma coisa curiosa. Uma mulher que nem sei o nome tirou o celular do bolso pra me mostrar um bebê. Por que eu iria querer ver o bebê cuja mãe não é minha amiga e ela mesma não me mostrou o próprio filho?
Mas muita gente via a tal criança, ali exposta na internet, toda fantasiada mensalmente igual as blogueiras fazem com os próprios filhos, só que patrocinadas, pra te vender a ideia de que você não será uma boa mãe se não fizer o mesmo - com seu próprio dinheiro que poderia estar investido no tesouro Selic, se ele melhorar.
E ninguém se pergunta nada. Continuam usando os filtros. Não usam depois de se perguntarem, mas simplesmente não se perguntam. "Tome aqui o meu nariz, deixe ele fino".
Mas do que é que eu estava reclamando mesmo?
Ah, dos percalços da vida.
Por algum motivo, essa plataforma ainda é boa para certos jobs e por isso estou aqui. Só por isso mesmo e algumas hipocrisias anuais.
Continuarei até falir, eu acho, mas vou tentar diminuir os percalços.
Aqui você não vai encontrar algo sobre o que fofocar de mim pra sua tia. Minha foto bonita na internet está lá no Lattes, pode checar. Aquele outro site de currículos que esqueci o nome, infelizmente não uso, mas me lembrarei de tirar uma foto bonita pra lá também, caso eu precise. Talvez eu até bote um filtro, o que acha?
De que mais eu preciso?
Uma vida amorosa, certo. Mas a tradicional ou qualquer uma?
Alianças, perfil conjunto (cool em 2012) e uma bela foto do casamento e do bebê fantasiado mensalmente. Anotado. Um bebê hétero, aliás.
Fotos, ok. Relacionamento tipo Disney, ok. Bebê hétero, ok.
E uma carreira?
Acreditam que, quando me param no supermercado, é a última coisa que me perguntam? Mas uma carreira é importante, eu acho. Ou será que não é mais assim em 2020? Desculpem, estou atrasada, estava lendo, aí quando tirei os olhos do papel ainda era 2020 e tinha racismo, gente falando mal do corpo alheio e me fazendo perguntas pessoais e não sei como, mas eu sei sobre a vida amorosa do Winderson Nunes mesmo que eu nunca tenha visto ele pessoalmente, nem somos amigos, e não me lembro dele mesmo ter me contado sobre sua vida amorosa
hahahahahahahahahahahahhaahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahhahahahahaha.
Devo estar delirando mesmo.
Mas acho que era isso mesmo o que eu tinha pra dizer.
Não falem comigo se for pra eu perder meu tempo, sério, já tenho amigos e amigas, o meu orientador tem meu e-mail, qualquer coisa que vocês precisarem, não iriam me procurar por aqui, né?
Então, se for pra falar comigo, não falem.
Se eu puder pedir mais uma coisinha, também não falem comigo no mercado, seria tão gentil de sua parte...
Se não estiver na minha lista de amigxs, se não for me mandar jobs, só não falem comigo.
Eu vou deixar mais claro, prometo, e vou até mudar meu nome pra Fernanda, pra ver se todo mundo que não tá na minha lista de amigxs, para de me achar.
My bad, fui realmente ingênua esquecendo de mudar meu nome aqui.
Beijinhos ❤

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Pensamentos de hoje à tarde

É assim mesmo, só escrevo quando estou triste. Pensei que todas as horas de estudos servissem para alguma coisa além das linhas no Lattes, pra apagar dentro de mim os sentimentos humanos, aqueles inferiores das pessoas que sofrem de amor.
Rio dos romances, digo que antigamente as pessoas eram menos evoluídas e que não faz sentido sofrer uma doença, chamar o médico, ir para o exterior a fim de curar um coração partido. Os intelectuais não sofrem, os cantores sertanejos, sim.
E então, eis que eu sofro. Perco pontos no meu QI, produzo menos ciência aquele dia, como chocolate. E escrevo. Escrevo naquele semana mais do que declarações de amor em todos aqueles anos. Penso em ser imediatista e acabar com meu sofrimento, sumir das redes sociais, ficar dois meses me recuperando com os livros da Fernanda Young. Penso que posso voltar a dançar sozinha em casa, me arrumar para tirar fotos, fazer vídeos chamadas com as pessoas que conheci na internet, aprender mais uns dois idiomas. Me encher de coisas e chorar só uma vez por dia, ainda terminar esse período tendo publicado um livro. E penso o quanto queria que você não me fizesse falta, que seria simples mandar as coisas pelos Correios. Eu rasgaria as fotos, bloquearia amigos em comum, seria como se eu tivesse te amado menos.
Eu iria chorar todos os dias em que você não corresse atrás de mim e, na verdade, acredito que você não correria atrás de mim. Não muito. É coisa de comédia romântica e você sempre com muita preguiça.
Nesses dias, eu vou e volto, escrevo e apago, fico forte e depois, fraca. Imagino mil histórias na cabeça e de todos os finais, qual seria meu preferido. Eu nunca tendo a me iludir, sempre mensuro o tamanho do estrago, escolho esse final, o mais abrupto, que acabaria mais rápido com as minha agonia.

Preciso escrever mais poemas de amor quando a gente está bem...

domingo, 14 de junho de 2020

seguir por obrigação ou um grandessíssimo tabu contemporâneo

oi :)

desde 2013, se não me engano, quando eu tinha um celular mais simples que não suportava o aplicativo do intagram, eu ficava cobiçando as fotos conceituais de outras pessoas, com aqueles filtros nativos que, hoje em dia, são considerados um horror e meu sonho era ter um celular mais moderno pra fazer fotos igualmente conceituais. foi então que eu tive meu galaxy pocket e tudo começou.

esse sempre foi meu aplicativo preferido. pouco tempo depois, eu abandonei o facebook, que se tornou a rede social dos nossos pais, tios e avós, enquanto os jovens tinham instagram, postavam selfies, depois começaram a compartilhar algo muito melhor: experiências e conhecimento.

vamos dar um salto pra 2020. o instagram não representa mais a mesma coisa pra mim; ele se tornou um vício! eu já tenho os meus critérios para usá-lo, sei exatamente o que gosto, não tenho medo de fazer novas seleções, aprendo estoicismo, minimalismo, participo de clubes literários. o grande porém é que essa ferramenta é extremamente viciante e nos rouba tempo de leitura, de reflexão, de silêncio. desde então, tenho procurado novas maneiras de lidar com seus pontos fortes e fracos, preservando minha paz mental.

hoje, eu quero conversar sobre o tal do "seguir por obrigação", um grandessíssimo tabu contemporâneo. muitos de nós já superou o assunto menstruação, por exemplo, mas ainda segue no instagram aquela conhecida que não sente muita afinidade.

eu estava lendo alguns livros sobre neurociência* e algumas passagens explicam sobre a nossa necessidade de retribuir e agradar (é o que nos faz ceder a um vendedor de roupas insistente, por exemplo). eu também sinto isso, não estou isenta da culpa quando fulanita resolve tirar satisfações comigo sobre porque parei de acompanhá-la nas redes sociais. o ponto é: eu não gosto de atitudes diplomáticas ou evasivas e a culpa que eu sinto quando saio pela tangente quando eu deveria ter sido sincera é muito superior à culpa por ter "magoado" alguém por um motivo tão insignificante.

aqui vão as minhas sinceras explicações: eu não sigo as minhas amigas nas redes sociais porque não me interesso por lifestyle ou selfies; eu não sigo algumas amigas nas redes sociais porque seu senso estético (lê-se: filtros, assuntos, paleta de cores, fotos sem noção sobre como ela se cortou com a faca, foto dela tomando soro no pronto atendimento etc) não me agrada; não sigo familiares ou conhecidos da minha cidade porque não gosto de me expor, por isso, geralmente bloqueio essas pessoas; não sigo perfis pessoais das minhas amigas ou conhecidas que não têm a ver com algo do meu interesse, por exemplo, se não tenho curiosidade em aprender sobre arquitetura, não seguirei a amiga que fala sobre o assunto; bloqueio pessoas, sejam elas famosas ou não, que eu sinto qualquer desconforto, ex amiga, ex namorado ou blogueiras brancas que se fantasiam de negras etc; dentre muitos outros casos, mas acredito que vocês entenderam o x da questão.

outras explicações adicionais que deveriam ser óbvias, mas não são: amizade não é seguir no instagram, é ter uma checklist com o nome das pessoas que serão convidadas pro seu aniversário; amizade não é seguir no instagram, é separar uma parte do seu orçamento pra viajar com a melhor amiga todos os anos; amizade não é seguir no instagram, é comprar os produtos que ela produz e ajudar a divulgar seu trabalho; amizade não é seguir no instagram, é saber que uma pode contar com a outra nos momentos bons e nos ruins.

sobre as pessoas conhecidas que mesmo assim se sentem no direito de cobrar quando eu paro de seguir: não sigo perfis que não agradam meu senso estético; não sigo perfis de assuntos que não são do meu interesse; não sigo pessoas que só postam selfie ou foto de casal (isso é um assunto pra terapia, mas me sinto muito incomodada com trocas de fluidos corporais em público, argh!); não sigo perfis que incentivam o consumo; também não sigo pessoas que possuem algum valor muito destoante do que eu acredito como indivíduos preconceituosos, meritocráticos, conservadores etc. já deixei de seguir uma pessoa que eu gostava bastante, mas perdi a admiração quando ela começou a se mostrar ciumenta com o marido dela. não é pra isso que eu pago internet, convenhamos.


parece muita coisa, mas o mundo é outro - e olha que nem estou entrando no mérito do mundo pós pandemia - e os valores são outros. acredito que as blogueiras do corpo perfeito já não tenham mais tanto espaço e relevância, e os perfis que lutam por alguma causa ou ensinem algo estejam ganhando força. mas, como eu disse, nada é tão óbvio, apesar de extremamente simples. gosto muito dessa frase que rege a minha vida e resume esta e outras questões (preste atenção e guarde bem!):

don't do anything/ don't own anything/ don't be anywhere/ or around anyone/ that you don't love**


considerações finais: sei que o instagram e tantas outras redes sociais é o trabalho de muita gente, por isso, não se sinta ofendida ou ofendido por eu ter chamado o aplicativo de insignificante. apesar do seu pior defeito - na minha opinião! - ser o tal do vício, é uma excelente ferramenta pra ficar por dentro de conteúdos maravilhosos de tanta e tanta gente especialista nos mais variados assuntos, além de poder conhecer e conversar com pessoas que compartilham vivências incríveis. só peço uma coisa: mantenha a vida simples! sem cobranças, sem perder tempo com o que não acrescenta. pra mim, o instagram é um pouco insignificante sim, por isso não leve a mal se eu parar de te seguir por lá. o que importa é a vida que acontece offline.


Y A Y!


* "cérebro, uma biografia" e "o cérebro que não sabia de nada"
** não sei exatamente a autoria da frase, mas eu vi no site da Aja Edmond. a tradução é algo como "não faça nada, não possua nada, não esteja em nenhum lugar ou ao redor de qualquer pessoa que você não ame"