domingo, 20 de agosto de 2017

Estava segura no meu castelo de gelo que ele derreteu quando chegou. Caí lentamente dez lances de escada, a cola dos meus ossos ainda estava molhada, tudo se partiu novamente. As lágrimas no meu travesseiro não são de dor, ma de medo. Espero que elas tragam alguma cura. 
Esse beijo não durou mais de cinco segundos, intermináveis, vagos e perdidos num passado inteiramente atual. Eu te escreveria juras de amor, meu querido, as palavras mais doces que li na vida, afim de acalentar minha boca com o gosto da sua. E outras linhas mais das quais percorri na memória, sua falta afaga meu desejo. Se penso que eu e você iremos nos eternizar nas minhas singelas palavras, ou que seu papel aqui fosse só esse de me fazer rir, cada um num oceano diferente. Beijo de Eros, me excita, mas não me tem, me acende, seu torpor não me parece real. Tem minha prova e toda minha mente devassa a esperar as suas mãos. Eu não fico. Eu já estou pra lá do horizonte. Me acaricie com a curiosidade do seu olhar, me beije com esse teu olhar e tire a minha roupa com esses lábios de menino. Num dia desses, quando eu estiver passando, no tempo que dura uma respiração profunda. Tenha o meu sabor. E somente isso.  
Não sei se é mesmo você ou algum distúrbio hormonal. Eu controlo o tempo, a ansiedade, até mesmo controlo algumas pessoas, sendo que não posso controlar o que você causa em mim. Isso é assustador. Isso não me parece bom. Se nossa validade já venceu, enrolada demais pela sua indecisão, então creio que eu já não deveria mais me importar com seu nome escrito em todos os cantos por onde eu passo. Mas, querido, ainda quero ter a sensação de ter você em mim, cobrindo meu corpo todo. Por mais que o ar não seja um dos mais leves. Você vai e eu aqui não me sinto bem. E eu deveria. Ficar bem. O tempo todo. Ou boa parte dele.  
Isso de eu e você ainda me soa totalmente certo. Naquele dia em que abri os olhos e lá estavam todas as partes que adoro em você, há centímetros dos meus dedos. Parece certo conversar com você, beber no seu corpo, dar minha boca pra você beijar, depois encontrar as melhores palavras pra te desenhar aqui. O que eu mudo dentro de mim acompanha a sua respiração. Somos tanto, em alguma esfera universal, que o passo a passo das pessoas normais não servem aqui. Se bem que seria bom te ver de novo um pouco mais de perto. 
Enjoei da minha voz dizendo coisas sobre você e fui capaz de prometer que esse assunto estaria encerrado. Me descobri livre do peso que é estar apaixonada, achando idiota a parte que nos faz estar sempre em busca de dividir a vida com alguém. Preciso ler alguns livros teóricos pra mudar esse narrador chato, que é só você fazer algo com seus olhos, uma grancinha sem graça, que ele pega a caneta e vem escrever. Pouco evoluída pra viver sozinha e jovem demais, ainda se abala com isso. Eu gosto de você ainda e isso faz doer minha humanidade. 
Se deite, olhos castanho-esverdeados, pousando em meus braços os planos pra não ficar. Por meio instante, olhe que as janelas estão sempre abertas caso você queira sair às pressas. Se deite sem aquele discurso pré montado de que você é o melhor no que faz e se atreva a não poupar sentir o que tiver de sentir. Vocês jamais irão entender que tudo se constroi e se destroi no agora. É por isso que não sentem, só atuam suspiros ensaiados. E quando deitar um pouco mais antes de ir embora, se sentir vazio dois segundos depois. Onde você estava mesmo, esse tempo todo em que estivemos por aqui?