sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Plenitude, calmaria e seus sinônimos

As paredes eram de um tom pastel e a mobilia fosca e escura. Havia quadros provençais e prateleiras por todos os cômodos, enquanto alguns objetos coloridos de decoração traziam um pouco de alegria ao local. O chão era de madeira. Era uma casa pequena e íntima, havia um toque boêmio daqui e dali que denunciavam seus moradores. A iluminação era luz fria, mas as noites que não eram reservadas ao trabalho trazido pra casa eram clareadas com as chamas quentes das velas. Eles se perdiam na banheira. Ela lia ou escrevia numa espécie de camisola preta comprada na liquidação. E também tinham as calcinhas de renda. Sutiã não, a incomodava. E ele admirava sua silhueta refletida na parede oposta da mesma forma que um artista plástico admirava Picasso. Era uma miragem. As pernas se roçavam umas nas outras quase que involuntariamente. Ela era boa naquilo de soar natural. Ela era boa em outras coisas também. Vira e mexe ele buscava uma bebida pros dois e a fazia perder a página que estava lendo, puxava-a pra debaixo dos lençois, ela reclamava como sempre, isso devia ser algo universal nas mulheres, mas sempre cedia. E no dia seguinte ela acordava antes, assustada, procurando ao redor pra ver se tudo ainda estava ali, a vida em que ela escolhera e moldara detalhe por detalhe. Tomava-o nas maõs, ou na boca, dava-lhe um beijo, alimentava sua alma e vida em todas as dimenssões.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

"Mas de vez em quando, uma mulher entra em cena, em plena floração, uma mulher estrapolando os limites do vestido... uma criatura feita de sexo, uma maldição, o fim de tudo. [...]"
"Cartas na rua", Charles Bukowski

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Bluebird - Charles Bukowshi 
Fonte da imagem 



há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo, fique aí, não vou
deixar ninguém te
ver.


há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu derramo whiskey nele e inalo
fumaça de cigarro
e as prostitutas, os bartenders
e os balconistas de mercado
nunca sabem que
ele está
lá dentro.


há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo,
fique escondido, você quer me
atrapalhar?
quer estragar os
trabalhos?
quer arruinar minhas vendas de livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu sou muito esperto, só o deixo sair
algumas vezes à noite
quando todos estão adormecidos.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique
triste.


então o coloco de volta,
mas ele está cantando um pouco
lá dentro, eu ainda não o deixei
morrer
e nós dormimos juntos desse
jeito
com nosso
pacto secreto
e é belo o bastante para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?


Fonte da tradução