Meu verão tem sido quente. Digo isso em termos térmicos e também em termos emocionais. Ele teria tudo pra ser frio e passional, ou pior, tudo pra ser triste.
Mas não. Definitivamente não está sendo triste.
Sinto que tudo caminha perfeitamente tal como deveria caminhar. Me sinto tão plena estando sozinha, como se esse fosse o tempo exato e tão merecido entre o primeiro e o segundo tempo de um jogo de futebol. Ou melhor, o tempo de descanso entre uma Copa do mundo e outra.
Por um lado, isso é assustador. Há quem não espera isso de você e se assusta com seu espírito sereno, mas isso não me importa nem um pouco. O que me assusta é notar o quanto as coisas são efêmeras. Às vezes, alguns sentimentos simplesmente não são transmutados. Eles só acabam mesmo, evaporam, viram uma vaga lembrança bonita, porém neutra.
Eu estou me sentindo realmente quente nesse verão. Sou uma mulher muito mais iluminada, introspectiva quanto meus gostos artísticos, embora aberta aos gostos artísticos das outras pessoas. Sei exatamente onde piso e me envolvo, sem qualquer culpa em escolher com quem me relaciono - como sempre fiz, do meu jeito criterioso e quase militar.
Ou é quente, despido, sincrônico, surreal, transcendental e divinal... Ou então não é.
Pelo jeito não é assim que se dão as relações ultimamente aqui na contemporaneidade. Tudo bem, eu nem ligo. Pode durar três anos ou três semanas, desde eu me sinta em chamas. Sem chamas, então não.
Janeiro foi quente, intenso, com entrega. Meu bullet journal novo, meu Deus, quanta paixão estou depositando nele! Cada sushi que andei comendo, cada taça de vinho e o dinheiro (antes gasto com cinema, pipoca, pizza aos sábados, repete) sendo usado todinho pra mim.
Em um único verão eu aprendi a fazer sozinha tudo (ou quase tudo) que eu fazia acompanhada. Preciso registrar aqui que aprendi a mexer em todos os botões do meu carro, desde abrir o porta malas a parear meu celular com o Bluetooth até desligar o limpador de para brisa traseiro!
Algumas coisas passei a dividir com pessoas diferentes e por enquanto só falta arrumar um parceiro de xadrez.
Meu verão de noites quentes regadas à àgua (meu novo hábito saudável) e um tanto de aprendizagem, turbulências seguidas de paz, uma porrada de ótimos textos (como a gente escreve bem melhor naquele período das paixonites, ein?).
Meu verãozinho quente! Eu que nem gosto de calor, justo eu, fui te amar tanto assim.