quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Justo eu que nem gosto do verão

Meu verão tem sido quente. Digo isso em termos térmicos e também em termos emocionais. Ele teria tudo pra ser frio e passional, ou pior, tudo pra ser triste. 
Mas não. Definitivamente não está sendo triste.
Sinto que tudo caminha perfeitamente tal como deveria caminhar. Me sinto tão plena estando sozinha, como se esse fosse o tempo exato e tão merecido entre o primeiro e o segundo tempo de um jogo de futebol. Ou melhor, o tempo de descanso entre uma Copa do mundo e outra. 
Por um lado, isso é assustador. Há quem não espera isso de você e se assusta com seu espírito sereno, mas isso não me importa nem um pouco. O que me assusta é notar o quanto as coisas são efêmeras. Às vezes, alguns sentimentos simplesmente não são transmutados. Eles só acabam mesmo, evaporam, viram uma vaga lembrança bonita, porém neutra. 

Eu estou me sentindo realmente quente nesse verão. Sou uma mulher muito mais iluminada, introspectiva quanto meus gostos artísticos, embora aberta aos gostos artísticos das outras pessoas. Sei exatamente onde piso e me envolvo, sem qualquer culpa em escolher com quem me relaciono - como sempre fiz, do meu jeito criterioso e quase militar. 
Ou é quente, despido, sincrônico, surreal, transcendental e divinal... Ou então não é. 
Pelo jeito não é assim que se dão as relações ultimamente aqui na contemporaneidade. Tudo bem, eu nem ligo. Pode durar três anos ou três semanas, desde eu me sinta em chamas. Sem chamas, então não. 

Janeiro foi quente, intenso, com entrega. Meu bullet journal novo, meu Deus, quanta paixão estou depositando nele! Cada sushi que andei comendo, cada taça de vinho e o dinheiro (antes gasto com cinema, pipoca, pizza aos sábados, repete) sendo usado todinho pra mim. 
Em um único verão eu aprendi a fazer sozinha tudo (ou quase tudo) que eu fazia acompanhada. Preciso registrar aqui que aprendi a mexer em todos os botões do meu carro, desde abrir o porta malas a parear meu celular com o Bluetooth até desligar o limpador de para brisa traseiro! 
Algumas coisas passei a dividir com pessoas diferentes e por enquanto só falta arrumar um parceiro de xadrez. 

Meu verão de noites quentes regadas à àgua (meu novo hábito saudável) e um tanto de aprendizagem, turbulências seguidas de paz, uma porrada de ótimos textos (como a gente escreve bem melhor naquele período das paixonites, ein?). 
Meu verãozinho quente! Eu que nem gosto de calor, justo eu, fui te amar tanto assim. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Narcotic

Fui procurar nos lugares mais inusitados alguma ocorrência sequer
Do que pode ter sido escrito ou calculado sobre
Eu e você.
Os seus verbetes, a minha renda.
Não encontrei muita coisa, só que
N is for nakedness.
No seu inglês sem fundamentos
No meu francês hipotético, misterioso, jamais despido.
Não encontrei em nenhuma parte do meu corpo todo
Os limites da sua indecência.
Se ainda queima,
Não sei.
Nos seus verbetes eu só encontro que
N is for nastiness.
Te compro nas embalagens de café e pimenta.
Hora ou outra, nos chocolates amargos.
Saboreio seus beijos quando digo algo como
Álcool, em que minha lingua bate no céu da boca.
Não sei se foi você quem soprou o restante do fogo e da fumaça
Que agora não são mais do que faíscas
Disparadas quando alguém lê Nietzsche perto de mim.
Só mesmo uma dose de tequila. Só mesmo uma discussão sobre
A cultura oriental.
Só mesmo alguém que discuta comigo a fotografia de Boyhood.
Uma maldade tamanha como sua indecência velada:
N is for narcotize.
Guardo minha meia-calça na bolsa
Junto com meu dicionário de inglês.
Guardo minha nuca sob meu cabelo e nela,
Meu melhor verbete.
Escolhi não te mostrar, você não entenderia.
Minha rosa, você não entenderia.
Guardo a minha renda de você e minha noite de você,
Aqui diz que
N is for nightmare.
N is for nightdress.
N is for narcotic.
Viciada, molhada, deliciosamente maltratada pela sua
...
Cortezia.
Meu doce narcótico.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Meus beijinhos infinitos

Nossa pele tem mais de 500 mil terminações nervosas capazes de nos fazer sentir arrepios. Imagine então eu te beijando com a ponta dos dedos, seu corpo inteiro, sem esquecer um pedacinho, por um dia inteiro. Um domingo, eu e você na rede, fazendo amor e fazendo amor de novo. Se eu beijar os seus lábios com a ponta dos dedos durante um outro dia inteiro, você não sentiria a mesma sensação duas vezes. Elas são infinitas. 

odeio caixa alta

decidi que odeio caixa alta. 
não decidi agora, na verdade, agora foi que eu percebi. assim como eu odeio encontro em cinema ou balada, eu odeio, odeio. não gosto muito de quem não puxe papo ou não me surpreenda com um assunto inusitado, mas, na verdade, acho que não odeio, odeio, é só agora eu não quero ninguém além daquele que eu queria (e agora acho que não quero mais). então... odeio os outros. 
por não serem ele.
então odeio ter de me apresentar novamente.
inclusive, gosto muito de vinho branco, espumante ou não. é minha pequena nova obcessão semanal. veremos quanto tempo isso vai durar. odeio quando digo que tinto não combina com chocolate branco, mas a pessoa insiste em quebrar as regras.
odeio ter de me encaixar. não farei isso, aliás, mas odeio tanto quem opta por milk-shake ou cinema no primeiro encontro quando eu, de fato, quero vinho branco e chocolate (branco). 
odeio esse tanto de adulto agindo como crianças. caralho, se é pra ser adulto, vamos fazer direitinho, esclarecer as coisas e agir por si só. 
se a gente acaba por não obedecer os pais, então obedecemos a quem? quem você obedece agindo assim dessa forma? a cartilha de como ser um macho alfa? aff, isso é tão patético. 
bem, mas pra adiantar as coisas, eu gosto de massagem. não sei, só gosto. acho importante quando conheço alguém que gosta de massagem, livros e rede. e disso tudo junto. 
vou contar pra júlia, espero que, em breve, sobre isso tudo. do meu mundinho planejado em listas e conversas com o universo. as minhas manias e obcessões às quais sou tão fiél.
gosto de massagem, jú, e ele também gosta. ele não é um pamonha que não desenvolve uma conversa com orações subordinadas substantivas. odeio, odeio os monossilábicos. 
ele me deixa caçar, não é tão grudento, mas ele faz massagem, gosto muito da cor do cabelo dele e da voz. 
odeio os que gostam de caixa alta. 
quero iluminar a minha cidade, ver os pontinhos amarelos dos postes e das janelas. beijar dentro do carro quando o sinal estiver vermelho.
não seria muito bom descrever características físicas agora, por pura alto sabotagem. (se fosse assim, descreveria um loirin, inteligente e de voz perfumada). 
odeio tanto, tanto, sentir que estou presa em 2012 diante de tudo isso. em 2012 você ainda estava aqui pra me dizer o que fazer. 

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Agora corra, corra mais rápido que minhas balas

Vênus apareceu no céu aquele dia um pouco antes do pôr do sol.
Você me chamou de minha garota e me levou pra sua casa pra poder ver o céu cor de rosa pela janela. Você não acendeu as luzes até que tudo ficasse totalmente escuro no seu quarto. E suas mãos nas minhas coxas, um pouco mais suaves do que a barba. Mais suave do que havia imaginado, mãos de quem não lava muitos quintais.
Entre os seus lábios macios, pude reparar na cor dos olhos. Eu me concentrei neles um bom tempo pra decifrar a cor misteriosa e não catalogada. Da próxima vez que topar com uma cor assim na vida, vou me lembrar desses olhos. Na verdade, duvido muito que isso se repita. É uma cor dessas que não se repetem.
Esqueci de olhar o resto. Esqueci de perguntar algumas coisas pontuais como, por exemplo, o porta retrato que estava na parede, quem era a tal senhora simpática.
Seu cabelo era macio o suficiente, limpinho e cheiroso. Você acharia engraçado se eu dissesse que isso me decepcionou um pouco. Eu estava sobrepondo a sua imagem com a do ator do meu filme preferido. Lindos olhos azuis, lábios rosas bem gostosos, cabelo sujo. Você se lembra? Devo ter te contado. E então você sorriu pra mim ou algo assim.
Você admirou minhas tatuagens, gostou de descobrir a tatuagem mais recente, depois que tirou meu sutiã. Perguntou algumas coisas sérias e cultas, mas senti ele bem firme em mim quando suspirei no seu ouvido. Você beijou minhas tatuagens. Passou a ponta dos dedos por elas. Gostei da sensação.
É como sentir vinho pelas veias, ao invés de sangue. Uma sensação de estar viva, dizer sim a certas coisas. Não a outras. Desde que tudo seja absolutamente decisão sua. Não me pergunte o porquê das coisas, querido, saiba que quase sempre a resposta é: porque eu quis. 
Você não é nada calmo. Gosto de sentir que com você eu não tenho paz. Gosto de dirigir e ouvir sempre a mesma música e lembrar que paz, sossego, sexo marcado, aquele mesmo apelidinho amoroso de sempre, o mesmo sabor previsível de sorvete, nada disso é certo ao seu lado.
É isso que mexe tanto comigo. E a sua barba passando pela parte interna das minhas coxas. As belas coxas.
Eu já suspirei demais ouvindo palavras soltas demais.
Depois que eu vestir minha roupa amanhã no banco detrás do meu carro, depois do nosso beijo de despedida no seu portão, da sua última passada de mão pelo meu quadril, depois disso, corra! Corra bem rápido pra que tudo não se acalme, não se amanse e não vire uma tediosa paz.
Só deixa mais esse texto e o resto do seu cheiro na minha pele durante o resto da tarde.

Vênus já vai aparecer de novo no céu.