quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Emplasto

Empoeirado e esquecido num canto qualquer, de uma memória falha qualquer, cheirando à coisa antiga, talvez até nunca usada. O emplasto. Eu o fiz uns anos atrás, numa madrugada de lua cheia, roubei a ideia de Machado e fiz o meu próprio remédio pros dias de melancolia. Bem, se você estiver pensando que esse emplasto foi feito com lágrimas - ou lágrimas de sangue - ou com as gotículas de orvalho de uma noite de setembro, não, não. Entenda, ele foi feito com tudo que há de azul e bom. Foi feito com as pontas dos meus dedos que me fizeram caminhar até aqui, simbolicamente, claro. Perceba como eu sou uma escritora melhor. Ele foi feito com cheiro de perfume misturado à cigarro e àquela vida boêmia e leve que se leva depois da meia noite. Eu lembro que quando o fiz pela primeira vez, ouvi aquela música tocando na minha cabeça enquanto caminhava de delito em delito, beijo em beijo. Eu estou ouvindo a música agora que abri o vidro, você não? Eu sinto o cheiro do sereno, as estrelas acendem uma a uma enquanto você percorre as letras com o olhar. O emplasto é certeiro, você não pode evitar que seu sangue ferva ou que seu coração se aperte no peito. O que você sente? Saudade? Você sente que precisa voltar àquela madrugada e ter de passar frio outra vez, ou que não pode fazer tudo aquilo novamente? O emplasto já foi criado, ainda mais, ele já foi aberto. Ele te cura da melancolia, te envolve em seus braços nus. Ele aquece o seu peito e expulsa aquilo que estava esquecido em você, seus melhores e mais quentes desejos. Você ouve a música, sente o seu toque, pode chorar e pode sorrir, pode se lembrar, pode se tornar uma pessoa da qual sua futura filha se orgulharia. Ele já foi criado, ele está aqui, aberto, esparramado em você. E você pode abri-lo quando quiser, ele sempre estará aqui. Bem aqui.

Tá sentindo?  

domingo, 21 de agosto de 2016

Ela de calcinha escreveu sobre você

Você devia se orgulhar muito quando uma mulher te der um sorrisinho igual ao que ela dá Timberlake ou ao Antonio Prata. E quando ela decidir encher uma taça de vinho pensando em você. Vinho, certo? Cerveja não. E quando uma mulher, descabelada e usando um perfume doce, quando essa mulher resolver escrever sobre você e se ela estiver usando as meias calças favoritas, imaginando tirá-las pra você. Bem, cavalheiro de sorte, isso não é motivo pra alarde, então pode se sentar. Não acredite que seu cabelo é tão sexy assim ou que seus olhos sejam puxados o suficiente. Não precisa pensar achar que é o último exemplar do sexo masculino em um mundo apocalípto. Ela vai continuar preferindo assistir Gilmore Girls e beber refrigerante sem se importar com futuras celulites. A questão, entenda, uma mulher bem resolvida com seus próprios sentimentos, ela sorriu pra você, de um jeito tímido e discreto. Ela sentiu aquela sensação que jurava ser própria das pré-adolescentes, sentiu aquilo de novo. Uau! Ela dançou Like a Virgin de calcinha e camiseta, depois olhou as estrelas na quarta à noite, depois da aula, ouviu Justin Timberlake e pensou em você. Ela escreveu sobre você e agora, agora você é imortal. Um tipo de cara comum, barba e perfumes amadeirados comuns, o qual se tornou parte de um belo texto, feito por uma bela escritora seminua, domingo às 3 da manhã. Um jeito bem sexy e complicado de virar poesia, não é?