segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

E eu disse, enfim, não. Não. Não!

E chegou o tão esperado dia, aquele que eu adiei tantas vezes por preguiça de me explicar. Estou finalmente livre de algo que não me fazia bem. Aqui dentro da minha cabeça, num raciocínio semelhante ao que uso pra brincar de mímica, vejo uma grande praça de alimentação que fica dentro de um grande shopping que fica dentro de um jogo de computador. Nessa praça de alimentação, as pessoas não existem de verdade. Cada pessoa no mundo têm que, obrigatoriamente, colocar um clone seu pra conviver com os demais clones das demais pessoas. Todos têm que conversar, ser amigos. E se você não bota um clone seu ali, então você não existe.
Não. Não. Não quero fazer parte disso.
Sei que meio mundo vai achar que a faculdade me fez virar hippie e que é humanamente impossível viver desconectada. Mas eu digo a vocês, não sirvo pra conviver do jeito que se convive hoje em dia. A garotinha que me vê 45 minutos por semana achou totalmente plausível me mandar um convite de amizade on-line. Não. Não. Parem já com isso! O namorado de uma conhecida também me mandou solicitação de amizade virtual. E o seu feed torna-se seu número do CPF, a prova de que você é um cidadão. Pra bater papo, pra ver as fotos uns dos outros, da garotinha da aula de Yoga uma vez por semana que eu não sabia nem o nome até ela tentar ser minha amiga virtual. 
Não sou um personagem de The Sims, não tiro quase nada de bom dessa rede social, não me sinto feliz ao stalkear a vida de quem não gosto, mas parece que é um bônus do qual você não tem como recusar. 
Já tentei ser daquelas que usa com cautela, mas não deu certo. Alguns amigos de verdade, que não postam nada do seu interesse, esses você não tem como excluir. E o meu tempinho perdido, quem é que traz de volta? E as tantas vezes que me estressei por ler comentários machistas de alguém que eu julgava ser legal. Realmente, essa rede social não me faz feliz. 
Então, vou continuar vivendo minha vida leve e normal, procurar notícias por fontes que julgo confiáveis, ter mais tempo pra Jout Jout, pra Even que vai continuar sendo minha irmã gêmea lá no Snap, vou chamar a Isa pra tomar uma milk shake qualquer hora e pedir o número da Dani pra gente conversar pelo Whats. 
Tudo que é essencial vai se manter. O que não for... 
...que seja feliz. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O lado ruim de ser uma mulher feminista é que não consigo me jogar no chão e espernear até conseguir o que quero ou até esperar que alguém me levante. Eu tenho o horrível costume de me levantar sozinha, de dar a palavra final sobre qual filme assistir. Mas o que eu queria agora, só dessa vez, era sair correndo como as mocinhas dos filmes só pra ver alguém correndo atrás de mim. Queria espernear.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A teoria do aspirador de pó

Eu acho minha vida sentimental comigo mesma bem parecida com a de Clarice ou a de uma adolescente qualquer, estou sempre em busca de descobrir quem sou e, enquanto não descubro eu sou uma bagunça interna constante. Mas não é disso que vim falar aqui hoje. Hoje o papo é sobre roupas. Eu tenho uma lista de combinações de roupas baseada nas minhas pesquisas no Pinterest. Não tem como sair vestindo o que vier na minha frente, porque se eu saio de casa me sentindo apenas "bonitinha" a minha vida toda começa a desmoronar. Então eu decidi que precisava de uma camisetona cinza básica pra viver. Mas decidi que era melhor se nela tivesse escrito Arctic Monkeys ou The Beatles. Daí eu fiquei batutando a ideia de ir numa loja de rock com essa minha cara de querubim pedir pra vendedora uma camiseta de banda. Pois é. Já tentei fazer isso uma vez e pude sentir o desprezo no âmago daquela mulher. Eu sei que ela achou que eu fosse uma poser e minha insegurança clariceana me deixa aflita só de pensar em voltar lá outra vez. Eu até que entendo a mocinha, eu também ficaria ofendida em ver alguém que não gosta de ler com alguma camiseta literária. Mas o que ela não sabe é que eu chorei vendo o Alex deitar naquele palco (pela tela do meu computador, obvio) e dar aquelas reboladinhas cantando Arabella. Ela não sabe, aliás, que meus óculos se chama Arabella. Ela não sabe que eu aprendi tocar 505 no violão e que eu comprei uma knee socks pra usar com uma camiseta azul. Eu sei o que significa aqueles números na bateria do Matt, minha filha. O problema é que eu não tenho cara de indie. Caramba, eu só quero uma camiseta da porra da minha banda preferida. E preciso que ela seja cinza. A camiseta, não a banda. Só assim posso ser feliz por completo e satisfazer meu consumismo disfarçado de minimalismo. Ah, e se você não entendeu o título desse texto, por favor, não compre uma camiseta do Arctic Monkeys. Obrigada.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Um par de meias

O que eu faço pra você? Não sei se você pode sentir o que carrego no potinho, mas só isso que tenho a oferecer. Nada desse mundo faz juz ao presente certo, creio que nem exista o certo, não nesse planeta.
A lua está mudando, é um novo ciclo. As marés estão altas e o mar perigoso. Eu já não sei mais se o que sinto é normal. Não espere de mim um poema normal.
O que vem depois do trinta? O que vem depois do sim? Não, não pode ser mesmo desse mundo. Como em um filme não sabemos quem, afinal, vai ficar com a mocinha, uma tensão que só aumenta e parece não ter fim. Um orgasmo! E depois o sossego...
- Você não me deixe sozinha depois de morta, você fique comigo porque vou ter medo. Vamos atravessar outras vidas.
Eu realmente não sei mais o que dar de mim, nessa língua não há mais nada o que dizer. Me diga qual papel de carta e diagramação conseguem despertar isso em você. Isso que posso guardar num potinho.
Não é desse mundo, não vai ter como escrever uma carta de amor piegas e com rimas. Me perdoe e aceite de bom grado algo que eu achar de bem bonito e puramente simbólico e capitalista.
Um dia, meu bem, debaixo da lua, feito maré alta, depois da canção, aquilo que a gente sente...
Eu quero te fazer sentir isso que guardo no potinho.



Conclusões ao fim do dia

O mundo realmente gira ao meu redor. As pixações de porta de banheiro me são uma afronta e a culpa de falar com alguém que eu não devia ter falado me tiram duas noites de sono e me atacam a gastrite.
Eu queria escrever pra ele, mas olha eu escrevendo pra mim de novo.
Bem no meio do salão, rindo com os amigos e sendo uma das facetas que mais gosto, não consigo ficar só com essa. Eu também sou, na maior parte do tempo, uma idosa com cara de Ensino Médio.
Eu sou uma idosa aos olhos dos outros porque sou o centro do mundo, a novela das oito. Eu cogitei trocar de celular pra ter uma câmera melhor, mudar meu cabelo e tentar parecer menos idosa.
Mas a crise me pegou, a responsabilidade, os prazos que fazem de mim inteligente.
- Não, eu não leria Grandes Sertões Veredas sem um prazo.
Eu não sei mais se quero ser assim. O mundo vai mudar por isso. Os olhos verdes vão desviar o olhar. Eu vou dizer que sou do lado dos que não são tiranos, eu vou escrever sem nexo nem revisão.
Porque o mundo gira em torno de mim, e esse é o meu texto, feito só pra mim, só o que expeli de mim.
Eu sou do lado esquerdo. Lado do coração.

domingo, 26 de julho de 2015

Droga de sentimentalismo

É quase como sentir fome, um vazio no estômago, uma sala de cinema em dia de filmes cult. Você é aquele único ser capaz de levantar a bunda da cadeira do computador, ir a um café sozinho e comprar um bilhete para Frances Ha às duas da tarde no cine do subúrbio. E você está dentro da minha barriga me causando intensas dores na alma, escorregando pelas minhas veias e me sugando as energias. Eu devo ter te comido junto com um queijo ralado vencido, droga de sentimentalismo. Eu já me rendi aos livros interativos, eu já li dois ou três clássicos da minha estante, eu já comi meu macarrão bem de vagarinho pra demorar bastante, pra ver se o dia, a semana, essa agonia passa logo. Já acabaram as possibilidades, mas não o seu porre. Eu estou aqui esperando pra ver se vai ou se desocupa a moita. Mas você não vai, está bem preso aqui dentro de mim, brincando de se esconder, bebericando essa café já frio, fugindo da realidade triste que já não pode ser adiada. Então vê se me faz uma última vez, faz bem de vagarinho, vê se finge que vai ficar, vê se demora pra acabar. Já não aguento mais ter de escrever pra me esvaziar.

A calcinha

Mal acabou de pagar em seis vezes no crediário o casaco que agora arrasta no chão sujo dos fundos do bordel, carregando consigo uns restos de batom que ainda lhe restava na boca. Ela não dorme com um homem há mais de três meses, jurou à Nossa Senhora que não faria isso por dinheiro até que seu emprego de garçonete no bordel lhe rendesse uns pães com margarina e leite pra sustentar a família. O homem que tem em casa já não lhe serve de nada, a não ser pra tomar conta da criança que chora e defeca nas noites que a mãe está fora. Ela cheira a suor e cigarro, tem bolsas debaixo dos olhos e o que lhe resta de beleza é aquela baita bunda que cresceu logo depois que perdeu a virgindade com seu primo, aos onze anos. Caminha cerca de quarenta e cinco minutos até chegar em casa quase amanhecendo. Pelo cheiro, percebe que o marido se esqueceu de trocar a fralda da criança e acabou dormindo em cima da garrafa de cachaça e da mamadeira. Tem que recolher as migalhas de pão pelo tapete, desligar a televisão usada e antiga que está passando filme pornô na bandeirantes, trocar a roupa do moleque e colocá-lo pra dormir com ela na cama. Enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto, Fátima faz uma prece à padroeira e dá uma boa olhada na faca cega que está perto da pia. Poderia acabar com o estorvo que via caído a sua frente, asqueroso, de cueca suja, bêbado e imprestável. Mas com quem deixaria o bebê, meu Deus? Poderia acabar com o sofrimento do pequeno, com certeza viveria melhor com os anjos no céu. Faltava-lhe coragem. Não lhe passou pela cabeça acabar com a própria vida, não tinha consciência de si mesma já que a vida toda sofreu e morreu. Queimava em seu ventre uma mistura de fome e rancor, um suspiro de vida acendia em seu coração quando via a amante do seu marido, toda carnuda e mais mulher do que ela, entrar pela porta da frente, dizer bom dia e começar a beijá-lo. Fátima sonhava em ser ela. Assistia tudo pela fresta da porta, deixada meio aberta de propósito. Quando tirava a roupa e coloca pra fora aquele tanto de pele suada e macia, Fátima voltava à vida. Amanda tinha um cheiro de perfume vencido, os cabelos despenteados de um jeito perverso, os lábios carnudos e mordidos, uma fada tatuada na canela e uma calcinha de renda, ah a calcinha de renda que aparecia mesmo sob a calça, mesmo diante do esplendor do seu corpo, mesmo caída no chão sujo da sua sala. Aguentou mais uns seis meses e juntou as economias e comprou uma calcinha de renda na promoção, a mais bonita e pequena da loja. Deixou o filho com a cunhada, boa moça, moça de família, podia dar de comer ao menino e talvez não deixar que virasse bandido. Pensou em esfregar a bunda na cara do marido pouco antes da Amanda chegar, assim poderia se passar por ela sem que ninguém desconfiasse e ser feliz por uns dez minutos até o infeliz gozar. Mas era uma calcinha tão bonita, tão bonita e esperada, para se desperdiçar assim com um animal que nunca lhe causou nada. Passou um esmalte vermelho que achou no fundo da gaveta, vestiu a calcinha de renda nova e seu vestido florido por cima, arrumou as malas e saiu. Fechou as portas atrás dela e antes de amanhecer já estava pegando o trem. Agora ela era Amanda, não Amanda de São Paulo, com criança no peito e a amante do marido pra sustentar. Era a nova Amanda de Mauá, bonita, livre, com a mais bela calcinha que já se viu por aquelas bandas, e a vida então passou enfim a acontecer.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O amor, aquele que é impulsionado no seu cérebro a cada manhã

Lembro de quando eu tinha meus dezesseis anos e tinha um melhor amigo que gostava de mim. Eu não gostava dele ~ foi mal ~ mas com certeza poderíamos ter sido irmãos numa vida passada. Lembro de explicar pra ele sobre o amor, aquele que não chegava nunca na sua vida e que na minha doia tanto. Mas o que a gente sabe com dezesseis, não é? Eu jamais ouviria meus conselhos da época, mas acho que eu conseguia, ao menos, consolar um melhor amigo. E o amor, aquele impulso produzido pelo cérebro quando há um aumento da dopamina, essa que pode ser diminuida com o uso de anti-depressivo, o amor que não tem nada de científico, na minha opinião, que ta mais pra sentimento mesmo, destino, emoção que mexe até com nosso cérebro, esse amor que eu tentava explicar na adolescencia, não tem mesmo explicação. A gente faz tudo errado de novo e de novo, a gente tenta melhorar, estudar, a gente lê Flaubert, tenta anotar tudo no caderninho e depois tomar decisões racionalmente. A gente lembra do conselho, de que uma hora a gente vai saber que ama, porque é uma coisa louca impossível de explicar. E daí vamos nos doar, vamos estudar mais um pouco pra não errar dessa vez, vamos escrever cartas de amor. Mas quando é pra ser, é. Você não precisa entender muito, nem saber o que era mesmo que você estava escrevendo. Você só precisa ler dois textos bonitos, meditar, tomar um banho. E deixa que amanhã você está novinha em folha pra liberar dopamina no seu cérebro quando ele vier falar bom dia de novo.

Nota: não sou nenhuma neurociêntista, posso ter escrito besteira nesse texto.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Coisas de Clarice

Às vezes eu acho que moro dentro da cabeça da Clarice e se você a conhece, vai saber do que estou falando. Hoje foi exatamente como ontem, a não ser pela catástrofe emocional que eu acabei de inventar. Uma palestra de como entender e lidar com um ser humano normal é completamente viável, mas queria mesmo era ouvir Gasparetto palestrando sobre Clarice e eu. Não acho que deveriam me entender, sei lidar com sentimentos de culpa que ressoam na minha mente desde que aprendi que não deveria errar. Posso lidar com mais um monte de hormônio que chegam em bando e se instalam na minha corrente sanguinea uma vez por mês. Posso digitar meia duzia de babozeiras pra uma desconhecida que, inclusive já rastreei até a conta bancária, e amanhã acordar completamente arrependida. Coisas de Clarice. Mas ao invés de pedir socorro, de ligar pra polícia ou pro manicômio, eu apenas me sento quietinha e de madrugada, quando todos que eu posso machucar já estão dormindo, escrevo e a tempestade que se concentra na minha mente se acalma. Um sopro de paz leva tudo pra longe por mais uma noite, por sorte ninguém saiu ferido. Leio, leio mais uma vez pra ter certeza de que tudo está bem e talvez eu volte aqui amanhã quando estiver em ruinas outra vez e leia de novo. Da mesmo forma que ninguém entende Clarice, também não se preocupem em me entender. Aqui no meio desse emaranhado de sensações, só eu mesma consigo me curar.

domingo, 28 de junho de 2015

Restaurant, chinita, adorável, hipotético, grazie

Eu estava lendo minha história, meus textos de dois anos atrás, e pensando em quantos detalhes da minha vida eles guardam. Eu não me lembrava de muita coisa até reler aqueles pedaços da minha história que resolvi eternizar, são como amostras de sentimentos, da minha péssima habilidade com crase e um quê da escritora que sou hoje. Eu escrevi dois - dois! - textos pra um cara que eu nem beijei. Qual será a técnica que ele usou pra me hipnotizar? Ou talvez eu que fosse muito ingênia. Eu mostrei os textos pra ele e mesmo assim ele não quis me beijar. Minha amiga me disse que, pessoalmente, ele nem é essa brastemp toda. E eu estou aqui, com aquela música que ele me apresentou, as cicatrizes dos outros que não merecem ser mensionados e uma ótima habilidade com crases. Eu estou bem melhor, eu beijo bem melhor, e até arrisco dizer que estou bem mais forte e madura. Apesar de gostar de unicórnios cor-de-rosa com glitter. E de querer ficar loira a cada ovulação. Hoje eu descobri que minha palavra preferida em francês é "restaurant", em español é "chinita" e em português são "adorável" e "hipotético". Em italiano eu ainda não sei, mas pode ser "grazie", uma das poucas que conheço. Vim deixar isso aqui registrado pro caso de eu me esquecer um dia, vocês por favor me leiam esse texto pra que eu me sinta exatamente como me sinto agora. Meu coração pulsando. Minha alma leve. Minha madrugada eterna. Tudo ao meu alcance. É assim que eu me sinto viva. Agora feche bem esse potinho.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Puxe uma cadeira

Sirva-se de café e poesia, adoce-se de tristeza, queime a língua. Psicografe os sentimentos incômodos. Chore! Chore! No meu ombro, debaixo das suas cobertas, entre minhas coxas. Lave meu cabelo. Lave a minha alma e leve daqui as impurezas dos dias de sol, as broncas do patrão. Leve as pessoas que já se foram a muito tempo e ainda não notaram. Queime a língua. Fale demais e enjoe dos seus próprios argumentos, ligue pra ele e recupere a criatividade. Acaricie suas asas, fale de amor. Psicografe, tipografe, libere. Escreva! Escreva! Faça amor, fale de amor, esqueça o mundo lá fora, puxe uma cadeira e fique aqui comigo. Lá na frente tem tanta coisa boa... Os votos, os laços de fita, o último pesar, o suspiro de alívio, a primeira dança. Queime o que já não presta, apague o cigarro. Beije, sonhe. Compre uma vitrola e carregue debaixo do braço pra todo canto. Cante-me aquela nossa música quando eu não conseguir dormir. Beba-me. Cure-se. Puxe uma cadeira e me olhe com olhos de primeira vez. Avelã, cor de mel, loiro-escuro-acinzentado. Grite, solte o balão. Volte pro quentinho debaixo do meu vestido. Tire, cheire, morda, seja meu. E fique. Você, a Gigi e a Noelle. E só! Puxe uma cadeira e me fale de amor, refaça-me de amor, refaça-se. Ainda há a poesia, meu bem.